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Projeto de escritor. To sempre de malas prontas pra lugar nenhum por que até hoje não achei casa alguma dentro de mim. (Pra saber mais, clique ali em Quem eu sou, à direita)

domingo, 25 de agosto de 2013

Soneto

                Estava ali no topo do mundo. Podia ver todos os outros prédios daquela sacada de mármore. Observava as luzes cintilantes que formavam uma bela vista. Avistava aqueles arranha-céus de pé, escorado na sacada. Não sei bem por que estava ali, mas eu precisava relaxar depois de um dia de trabalho maçante. Era necessário estar só, porém não sozinho, meus pensamentos não deixavam. Ainda estava no trabalho, aproveitando meu intervalo de 15 minutos. Enquanto estaria ali, trancafiado naquele escritório de contabilidade, outros mil lares celebrariam a presença de suas famílias, amantes se encontrariam no apagar das luzes em motéis, homens perdidos tentariam se encontrar em bordéis, e eu me perderia no meio de folhas recheadas de cálculos. Embora ainda fosse capaz de perceber a minha hedionda realidade sem aquele trabalho, eu repugnava-o com todas as minhas forças. Minha faculdade foi repleta de notas altas, professores bons, mas não memoráveis e colegas quase acéfalos. Sempre tive um zumbido no ouvido que mais se parecia com um eco que tentava decifrar em vão. Tenho quase certeza que me alertava a não continuar no curso de Economia. Eu odiava a monotonia dos estudos. O resultado foi um canudo do qual me arrependo de ter conseguido, noites mal dormidas e um rosto que se abdicou de sorrir, ausente de expressões, tomado pela melancolia. Eu era isso, um quadro em branco com uma moldura de esmorecimento.
            Meu interior gritava. Eram gritos agudos e lancinantes que me tomavam o ar. Eram gritos de vozes aflitas, entremeadas de surdos lamentos. Eram vozes de tristeza e pesar. Minha existência até então era um registro invadido pelo branco da nulidade de vida e emoções sentidas. Eu era ininteligível para todos e inclusive, para mim mesmo. Era um soneto tocado por um pianista mergulhado nas trevas tentando compor o seu último trabalho.  

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