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Projeto de escritor. To sempre de malas prontas pra lugar nenhum por que até hoje não achei casa alguma dentro de mim. (Pra saber mais, clique ali em Quem eu sou, à direita)

domingo, 6 de outubro de 2013

Ventos


Café preto forte com gotas perdidas em uma xícara branca com detalhes minimalistas fracos em tom de marrom. Cansaço matinal pesando. Cabeça cheia de pensamentos avulsos aglutinados em uma mente confusa. Maços de cigarros esparramos por uma mesinha pequena. Os braços cansados se debruçam em cima da mesa de madeira. Olho para o lado e vejo o tempo correr. O tempo leva-o pelo horizonte. O tempo já fora desperdiçado. Os anos passaram e a xícara está pela metade, com o líquido negro já frio. Quem dera fossem outros tempos, outros ventos. Quem sabe em outros verões e primaveras veremos os lírios de nossos campos verdes e os frutos amadurecerem das árvores que se apresentam magistrais em nossos caminhos. 

domingo, 22 de setembro de 2013

Quiçá

Bom, tenho consciência de que o nível aqui mostrado está bem baixo. Isso se dá por algumas razões como a falta de tempo e outros contratempos que me impedem de poder escrever todos os dias e quiçá colocar conteúdo aqui. Grande parte da minha produção está indo para um projeto de livro. São contos, mais extensos, alguns de até seis páginas. Não coloco aqui pois a grande maioria das editoras pediria para retirar o conteúdo. Eles exigem conteúdo original, nunca antes publicado. Assim como prêmio literários. 
Mas enfim, domingo que vem tem um texto melhor do que este autoexplicativo. Ainda vou pensar se escrevo e coloco algum conto aqui. Quem sabe, né? Por falar nisso, ando lendo Clube da Luta e Barba Ensopada de Sangue. Dois ótimos livros, principalmente o segundo. A narrativa de Daniel Galera se dá de forma sutil e envolvente. Ao mesmo tempo em que estou lendo ambos, também leio Ensaio sobre a cegueira. Acabei por descobrir (tardiamente) que Saramago é incrível. E tudo isso está refletindo na minha literatura (para melhor). E enfim, espero poder mostrar pra quem lê aqui essa melhora.

domingo, 15 de setembro de 2013

Alegria

Deixa por aí. Coloca em qualquer lugar. Entre a cabeceira de madeira ou nos livros da estante de ferro da parede. Esconde entre a poeira dos papéis e a melancolia ao lado dos meus desenhos. Por mim tanto faz. Já fiz tanto que agora tanto faz. Escolhe onde querer colocar, pois pra mim, tanto faz. Já não importa há muito tempo. Sem graça. Esse quarto já esquecido, escurecido onde tudo eu organizo a minha bagunça. Não tem jeito mesmo. Já tive tempo, hoje não tenho. Nem por isso era diferente. Mas pega um café. Açúcar ou adoçante? Entra pra ver. Entra pra enxergar o meu mundo. Aconchega-te entre os meus lamentos e a cadeira velha que range ao mexer para os lados.
Olha os discos tão parados. Tão solitários a espera de um ‘play’. Ó os brinquedos. Cansados, pensativos, já se foi o tempo deles. Que nostalgia. Antigamente isso parecia bem mais familiar. Antigamente isso nem parecia um quarto. Era parte de mim. Parte essa feliz. Hoje virou meu muro de lamentações. É a válvula de escape. Catarse. Como eu queria que não fosse assim. Poderia valer, ser menos ‘tanto faz’. A gente cansa de quem escolheu ser e ter ao seu lado. Essa exaustão causada pelo desgaste natural que o tempo traz a tudo aquilo que é nosso. É isso. Nós cansamos de ser feliz. Colocamos em qualquer lugar. Mas não importa mais. Tanto faz. Ficou pelo caminho. Como tantas outras coisas ficaram a frente da minha alegria. 

domingo, 8 de setembro de 2013

Freestyle

        Você pode ver a cidade caindo no caos. Cidade má, cidade suja, em frangalhos. Os ladrões estão fora das cadeias lotadas e os negros nas favelas. Os quarteirões e esquinas cheiram a prostituição, controlada por traficantes donos de espeluncas e empresários tão sujos quanto os então rios, transformados em esgoto. As ruas trazem uma leve agonia no ar. Infectada pelos sem-teto, cansada de dar abrigo aos filhos das ruas. As ruas pedem perdão, não conseguem mais aguentar o peso dos enormes arranha-céus. O sistema decai e mostra a verdadeira face da sociedade que vivemos. Nós somos escravos vivendo os nossos sonhos. Sonhos medíocres, realidades podres, padrões pequenos. Somos encurralados em nossos quintais, pagando hipotecas e suando para um patrão dar chibatadas em nossas costas nuas. A ditadura como nunca se viu. O regime, não militar, mas consentido por todos. A ditadura da beleza, o controle da tecnologia. Escravos.
            Assim que a noite cai, façamos nosso ziguezague percorrendo as ruas sujas e apertadas. Entre bueiros e sinaleiras. Lixos revirados, cães andarilhos, olhares de medo e tristeza escondido entre um cobertor e um papelão fétido. As lâmpadas presentem a enorme escuridão que recairá em cima de todos nós, civis e piscam, como um aviso de que a pior tempestade está por vir e trará estragos que nem mesmo obras superfaturadas irão contornar. Esse furacão será interior e entrará na mente do mais simples pedreiro até o viciado em heroína do bairro pobre. Elementar que iremos bradar as bandeiras de um país que não nos representa, aclamando uma nova era, revolução. Seremos tão escravo quanto os negros traficados na África. Batizaram-nos com uma nova consciência. Sem direitos, cen-sura. Iremos gostar de tudo aquilo e agradeceremos dando nossos bens, partilhando nossas alegrias em redes sociais. Tornaremos-nos zumbis. A tecnologia irá sugar tudo, até mesmo nossas companhias. Ela, a verdadeira responsável por essa constante sensação de solidão. Os médicos irão receitar os antidepressivos que seus filhos tomam. 
           As perspectivas se esvaem aos poucos. A esperança não passará de uma nuvem passageira dentre o céu escuro deixando-nos no breu em plena luz do dia. Seremos cegos. Cegos. Cegos e surdos. A mídia irá reproduzir sem ouvidos e o governo irá falar pelo povo. Eu não sei o que realmente importa agora. Odiávamos tanto a alegria partilhada então iremos provar da tristeza coletiva. Nada mais restará. Nada mais importará. Como hoje já não importa.

sábado, 31 de agosto de 2013

Cordão Umbilical



       Introspecção. Eu sempre fui assim, quieto, introspectivo. Eu sempre estive imerso no meu próprio interior, mundo criado por um em universo paralelo. Alheio a tudo aquilo que me rodeava e isso se aplica a tudo que pode ser pensado. Lembro-me da minha professora ter dito a minha mãe: “Ele é muito quieto, quase nem se mexe ou sai do lugar. Não incomoda e tudo está bom para ele”. Isso se repetiu nos meus anos escolares. A diferença é que eu já não tinha a mesma paciência e obediência. Nunca fui bom, ou melhor, nunca procurei ser. Quando era pequeno, minha mãe sempre me dizia que eu não ouvia, falava ou me expressava. Ao crescer, na adolescência, meu pai me criticou inúmeras vezes quando isso se tornou sinônimo de irresponsabilidade. Perdi prazos, deixei de fazer tarefas e sempre fui um zero a esquerda no colégio. O motivo para isso tudo sempre se manteve nas escuras, até então não descoberto.
            Ao entrar na universidade aquele horizonte de possibilidades e caminho me cegou. Por algum tempo eu pensava somente na academia e os deveres dados por professores. Um dia, porém dei um basta. Toquei o foda-se e caguei para a teoria. A minha ansiedade se tornava cada vez maior e constante. Eu queria a prática, exercer aquilo tudo que estava aprendendo. Isso por vezes me atrapalhou ao ponto de querer desistir de tudo. Essa ânsia de querer viver o tempo perdido, de resgatar tudo que desperdicei, em vão. Ainda penso nisso, mas não com a frequência de antes. O lamento pelo que deixei de viver, fazer e produzir irá para o túmulo comigo. Resumidamente, algo me atraia, mas ainda não sabia o que. E eu perseguiria isso até descobrir. Finalmente aos poucos algo me despertara a intenção. Isso foi prosperando e minhas pálpebras aos poucos ensaiavam um tímido despertar.
            Em 20 anos, nada me tocara como aquilo. Foi preciso uma pessoa para eu então descobrir o que queria e iria fazer. A resposta, simples e camuflada, tinha me acompanhado quando comecei a escrever. Eu escreveria. Eu iria fazer, praticar essa coisa chamada literatura. Nem bem sabia onde ia quando comecei a escrever aos 13 anos. Não pretendia e meus pensamentos não sondavam tal alternativa. Após sete longos anos descobri o que estava na minha frente o tempo todo. E foi o mais belo dos amanheceres. O sol mais esperado quando a caneta tocou no papel e me dei conta: seria escritor. Faria o possível. Dormiria poucas horas durante a noite, leria mais do que li em minha vida toda, pesquisaria e me aprofundaria em qualquer detalhe que me chamasse atenção. Não sei se sou, mas nasci escritor. A explicação cientifica assim como a passada por livros e professores diz que a comida ingerida pela mãe acaba por ser recebida ao bebê pelo cordão umbilical.
            O cordão umbilical não é somente a ligação entre mãe e filho, ele vai muito além disso. O cordão umbilical é aquilo que nos liga ao mundo. Nunca falei muito, mas necessitava me expressar de alguma forma. A minha escrita é a forma de me conectar ao mundo. Preciso escrever e ser lido, falar e ser escutado, pensar e provocar indagações. Eu não consigo me imaginar fazendo outra coisa que não seja isso. Eu não consigo me imaginar tendo uma conexão com o resto do universo se não for me expressando em palavras. A realidade é que perdi muito tempo e é provável que demore ao lançar um livro. Mesmo assim, o registro da primeira viagem ao centro do cérebros das outras pessoas, totais estranhos até eu completar 20 anos, será feito com o lançamento. Pode ser de contos, poesias ou até mesmo romances. O que importa é o belo despertar de um longínquo sono.

"Há apenas dois lugares possíveis para uma pessoa. A família é um deles. O outro é o mundo inteiro." Daniel Galera, Barba Ensopada de Sangue

domingo, 25 de agosto de 2013

Soneto

                Estava ali no topo do mundo. Podia ver todos os outros prédios daquela sacada de mármore. Observava as luzes cintilantes que formavam uma bela vista. Avistava aqueles arranha-céus de pé, escorado na sacada. Não sei bem por que estava ali, mas eu precisava relaxar depois de um dia de trabalho maçante. Era necessário estar só, porém não sozinho, meus pensamentos não deixavam. Ainda estava no trabalho, aproveitando meu intervalo de 15 minutos. Enquanto estaria ali, trancafiado naquele escritório de contabilidade, outros mil lares celebrariam a presença de suas famílias, amantes se encontrariam no apagar das luzes em motéis, homens perdidos tentariam se encontrar em bordéis, e eu me perderia no meio de folhas recheadas de cálculos. Embora ainda fosse capaz de perceber a minha hedionda realidade sem aquele trabalho, eu repugnava-o com todas as minhas forças. Minha faculdade foi repleta de notas altas, professores bons, mas não memoráveis e colegas quase acéfalos. Sempre tive um zumbido no ouvido que mais se parecia com um eco que tentava decifrar em vão. Tenho quase certeza que me alertava a não continuar no curso de Economia. Eu odiava a monotonia dos estudos. O resultado foi um canudo do qual me arrependo de ter conseguido, noites mal dormidas e um rosto que se abdicou de sorrir, ausente de expressões, tomado pela melancolia. Eu era isso, um quadro em branco com uma moldura de esmorecimento.
            Meu interior gritava. Eram gritos agudos e lancinantes que me tomavam o ar. Eram gritos de vozes aflitas, entremeadas de surdos lamentos. Eram vozes de tristeza e pesar. Minha existência até então era um registro invadido pelo branco da nulidade de vida e emoções sentidas. Eu era ininteligível para todos e inclusive, para mim mesmo. Era um soneto tocado por um pianista mergulhado nas trevas tentando compor o seu último trabalho.  

domingo, 18 de agosto de 2013

Maceió

            O acúmulo de tudo resulta nessa inóspita e grandiosa dor. Essa imensa angústia indesejada que se concentra ao leste de meu coração, como se o vento parasse e se perguntasse por qual caminho trilhar. O breu que ilumina meu olhar é o mesmo que se afunda no vazio de meu peito. Essa dor não é passageira, nem mesmo a melancolia que vem acompanhada do vazio concentrado em mim. Uma sensação engraçada, porém não me tira nenhum sorriso da cara. Assim, imitando uma cachoeira colossal desabando do cume de uma montanha. Vem com força arrebatadora, mas quando pode ser vista ao passar dos galhos e pedras, peixes e areia, não traz nada consigo, somente a força sobrenatural rasgando a natureza, tirando das casas as raízes fincadas na terra e as certezas plantadas, empurrando para baixo a vegetação rasteira e afundando qualquer esboço de felicidade. O turbilhão de peixes é afastado pelo magistral esforço feito pela água que não trata de limpar, mas sim, misturar aqueles sentimentos impuros e negros. Traz a confusão que flutua com a sujeira vista na água clara. Uma onda insipidamente colorida com as cores do caos latente, movida pela melancólica marolinha que molha o desamor e pinga em minha face adoecida.
            Essa dor não é passageira, ela pernoitará a noite e quiçá o dia. Ela irá se afundar dentro de mim e me atormentará ininterruptamente. Se concentrando em meu peito, como o vento de um tornado que para e se pergunta por qual diretriz se deixar levar. Não saber onde ir é sempre uma forma de chegar, até mesmo ao seu cume interior embora a vista não seja das mais belas. Se reconfortando na saudade, bebericando no chafariz da nostalgia procuro me encontrar. Puxando todas as pequenas raízes, esperando que aquilo me traga o que ainda restou. Da terra molhadas, das pernas cansadas, dos pés calejados. Pés cansados da vida de andarilho. Pesados pelo fato de carregar em seus calcanhares todos seus sonhos. Pés que abrem os caminhos. E que os caminhos se abram, assim como meu peito. Como numa impossível que ele seja tomado pela alegria, deixando de lado o tormento escorrer como uma ferida aberta. Ferida aberta de uma torneira lacrada e guardada pelo remorso. Como uma torneira que desperdiça a água que sai do seu ventre, como o filho que faz força ao adentrar o mundo canibal e sair do carinho maternal. Como o coro contido que se esvai aos poucos. A enorme cachoeira relatada. Vem e quando não se nota, carrega a força descomunal para no final deixar a si com nada. Absolutamente nada. Absolutamente nada no peito, que aos poucos será tomado pela enorme angústia que fica à espreita, pestanejando uma casa tal qual o órfão que ronda o lar.
            Quero minha casa, meu lar. Ouvir o amanhecer brotar, sentir a respiração amadurecer, a pele ser tocada pelo frio. Os seres de pele fria sempre combinaram comigo. O frio conforta e leva consigo aquilo que o calor não preenche. O sol nem sempre ameniza aquilo que é vago. Bom seria voltar para a casa. O frio irá de congelar essa enorme solidão, regará a euforia e ensimesmado refutará o calor que não aquece, intangível aos que somente tem a visão. O frio irá de congelar as águas e mares desse rio. E virão outros rios, e virão outros mares. Maceió.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

PLMDDS

            Estava novamente na estrada, meu destino era Criciúma. Paramos em Sombrio por aproximadamente 20 minutos. Sombrio é 1 hora distante de Criciúma, e a parada naquela cidade era mais uma daquelas que estava no cronograma da viagem. Um bar-restaurante à beira da estrada para os viajantes comprarem algo e irem ao banheiro. Fui um dos primeiros a descer do ônibus e me dirigi ao banheiro. Logo após sair de lá, ao ir para o ambiente externo avistei dois homens se abraçando de forma intensa. Nada demais, continuei andando e chequei meu celular ao mesmo tempo em que comia um salgadinho. Foi então que os olhares dos então presentes me fizeram reparar em um beijo homossexual. Minha reação foi nula, visto que estão nos seus direitos, mas para os expectadores não. Faces incrédulas como se não acreditasse que fosse possível dois homens se beijarem. Devem ter pensando “que ousadia”, ‘audácia’ e afins. Alguns devem ter se sentidos invadidos, consternados e até mesmo incomodados pelo gesto de afeto protagonizado pelo casal. Pois bem, eles idem. Acabaram saindo de vista por causa dos olhares nada discretos. As pessoas estão no seu direito de reparar também, e vamos ser sinceros, como sociedade estamos longe de uma consciência moderna. Ainda temos um longo caminho a trilhar para escapar de certos dogmas e tabus. Já ocorreram beijos gays em novelas, tais quais em filmes, tendo até o tema como propósito.
            Recentemente vi em uma novela que um dos principais protagonistas é gay. Outras novelas já abordaram o assunto e tiveram homens e mulheres interpretando esses papéis. Na elaboração do personagem, sempre está presente o bom humor e o fato de serem engraçados para mascarar o preconceito, caindo no gosto do grande público. Mas então, porque é tão difícil aceitar um homossexual quando nas telas isso se dá com facilidade? Em Santa Cruz do Sul, há pouco tempo, o pastor e deputado Marcos Feliciano, o autor da proposta de “cura gay” esteve palestrando em compromisso com sua Igreja. O papa Francisco também visitou o Brasil com seu bom humor, embora não tenha tocado em nenhum assunto polêmico, como o aborto, uso de camisinha e outros métodos contraceptivos e a homossexualidade. Ao menos Chico cativou a todos. A Igreja hoje conta com uma pessoa que se blinda de temas  polêmicos mas revitaliza o público com palavras dóceis e dá uma aula de como reestruturar uma marca já gasta: uma aula de marketing. O catolicismo nunca esteve tão em baixa em solo brasileiro, um lugar conhecido pela devoção. O argentino deu uma aula de tratamento ao cliente, Nem nas aulas dos cursos de Publicidade encontram um professor que dê exemplo melhor do que o Papa Hermano. Para a Igreja e sociedade, a homossexualidade é de fato, e continuará sendo um tema complicado. Não será Francisco que irá mudar isso. Não é uma crítica e sim uma constatação, veja bem.
            As reações vistas por mim, assim como os risos e até ofensas me fazem pensar o quão preconceituosos ainda somos. Temos problemas maiores como pessoas e cidadãos e mesmo assim, nos importamos com um ato de amor. Qualquer ato de amor é válido e felizes são aqueles que se amam, que tem alguém para amar e zelar. Não vivemos no século XV para comemorarmos a vinda do Papa e nascimentos e filhos de casais reais. Essa visão retrograda em nada nos acrescentará. Dom Pedro tinha inúmeras amantes, dentre esses amantes, alguns homens. No Egito Antigo há provas do homossexualismo em sua cultura e sociedade. O preconceito contra algo que está enraizado na historia humana é no mínimo curioso. O homossexualismo sempre existiu e sempre existirá. Ah, e sobre a cura gay: PLMDDS* né

*PLMDDS é uma expressão que significa: pelo amor de Deus. PLMDDS é o título de uma das colunas do escritor Daniel Galera n’O Globo. O autor de Cordilheira usou a mesma expressão para falar sobre o nascimento do filho real. Galera escreve sempre as segundas. 

domingo, 4 de agosto de 2013

Eu quero saber

          Eu quero me aproximar, fazer tua luz cega parte de mim. Eu quero me adonar de tudo que existe dentro da sua alma arruinada, do teu coração cigano, da tuas pernas leves, da sua boca deteriorada por amores falhos e paixões inventadas. Eu quero fazer parte de tudo que é seu porque afinal, somos feitos de pedaços alheios, roubados no apagar das luzes e fechar das cortinas. Somos apenas colecionadores de olhares enigmáticos mais sinceros do que as confissões e promessas nos ditas.
            Eu quero saber se eu posso me adonar de você, quero saber se eu posso mais do que além de te querer. Se nada eu o puder, irei então mergulhar às trevas. É uma verdade ululante aquilo que você não consegue dizer, mas o que o seu coração sente. Mesmo assim você me abandona toda vez, como se eu fosse invadido por ondas gigantes que percorrem o meu sul, da minha barba falha até as minhas certezas. Você não tem ideia do quão fundo estamos ou não acredita? Querida, estamos abaixo daquela podridão que nos cerca nos corredores da agonia e das esquinas em que a tristeza pega ônibus lotado de sofredores.
            Ouvi dizer que as noites são para pensar e toda madrugada você vaga pelo labirinto da minha mente, entre meus pensamentos mais depravados e cheios de amor. Quantos outros segredos você pode manter? Me liberte de todos os dejetos, de toda minha egolatria. Vou rastejar até encontrar a sua linha de chegada, descobrir entre tuas montanhas o que tu guardas de mim, o que o teu silêncio gritante pensa ao meu respeito. Meu desejo é embarcar na tua roda gigante de sentimentos mesmo com qualquer enjoo comum. Eu quero saber, eu quero saber... mesmo que isso me mate.