O acúmulo de tudo resulta nessa
inóspita e grandiosa dor. Essa imensa angústia indesejada que se concentra ao
leste de meu coração, como se o vento parasse e se perguntasse por qual caminho
trilhar. O breu que ilumina meu olhar é o mesmo que se afunda no vazio de meu
peito. Essa dor não é passageira, nem mesmo a melancolia que vem acompanhada do
vazio concentrado em mim. Uma sensação engraçada, porém não me tira nenhum
sorriso da cara. Assim, imitando uma cachoeira colossal desabando do cume de
uma montanha. Vem com força arrebatadora, mas quando pode ser vista ao passar
dos galhos e pedras, peixes e areia, não traz nada consigo, somente a força
sobrenatural rasgando a natureza, tirando das casas as raízes fincadas na terra
e as certezas plantadas, empurrando para baixo a vegetação rasteira e afundando
qualquer esboço de felicidade. O turbilhão de peixes é afastado pelo magistral
esforço feito pela água que não trata de limpar, mas sim, misturar aqueles
sentimentos impuros e negros. Traz a confusão que flutua com a sujeira vista na
água clara. Uma onda insipidamente colorida com as cores do caos latente,
movida pela melancólica marolinha que molha o desamor e pinga em minha face
adoecida.
Essa dor não é passageira, ela
pernoitará a noite e quiçá o dia. Ela irá se afundar dentro de mim e me
atormentará ininterruptamente. Se concentrando em meu peito, como o vento de um
tornado que para e se pergunta por qual diretriz se deixar levar. Não saber
onde ir é sempre uma forma de chegar, até mesmo ao seu cume interior embora a
vista não seja das mais belas. Se reconfortando na saudade, bebericando no
chafariz da nostalgia procuro me encontrar. Puxando todas as pequenas raízes,
esperando que aquilo me traga o que ainda restou. Da terra molhadas, das pernas
cansadas, dos pés calejados. Pés cansados da vida de andarilho. Pesados pelo
fato de carregar em seus calcanhares todos seus sonhos. Pés que abrem os
caminhos. E que os caminhos se abram, assim como meu peito. Como numa
impossível que ele seja tomado pela alegria, deixando de lado o tormento
escorrer como uma ferida aberta. Ferida aberta de uma torneira lacrada e
guardada pelo remorso. Como uma torneira que desperdiça a água que sai do seu
ventre, como o filho que faz força ao adentrar o mundo canibal e sair do carinho
maternal. Como o coro contido que se esvai aos poucos. A enorme cachoeira
relatada. Vem e quando não se nota,
carrega a força descomunal para no final deixar a si com nada. Absolutamente
nada. Absolutamente nada no peito, que aos poucos será tomado pela enorme
angústia que fica à espreita, pestanejando uma casa tal qual o órfão que ronda
o lar.
Quero minha casa, meu lar. Ouvir o
amanhecer brotar, sentir a respiração amadurecer, a pele ser tocada pelo frio.
Os seres de pele fria sempre combinaram comigo. O frio conforta e leva consigo
aquilo que o calor não preenche. O sol nem sempre ameniza aquilo que é vago.
Bom seria voltar para a casa. O frio irá de congelar essa enorme solidão,
regará a euforia e ensimesmado refutará o calor que não aquece, intangível aos
que somente tem a visão. O frio irá de congelar as águas e mares desse rio. E
virão outros rios, e virão outros mares. Maceió.
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