Estava ali no topo do mundo. Podia ver
todos os outros prédios daquela sacada de mármore. Observava as luzes
cintilantes que formavam uma bela vista. Avistava aqueles arranha-céus de pé,
escorado na sacada. Não sei bem por que estava ali, mas eu precisava relaxar
depois de um dia de trabalho maçante. Era necessário estar só, porém não
sozinho, meus pensamentos não deixavam. Ainda estava no trabalho, aproveitando
meu intervalo de 15 minutos. Enquanto estaria ali, trancafiado naquele
escritório de contabilidade, outros mil lares celebrariam a presença de suas
famílias, amantes se encontrariam no apagar das luzes em motéis, homens
perdidos tentariam se encontrar em bordéis, e eu me perderia no meio de folhas
recheadas de cálculos. Embora ainda fosse capaz de perceber a minha hedionda
realidade sem aquele trabalho, eu repugnava-o com todas as minhas forças. Minha
faculdade foi repleta de notas altas, professores bons, mas não memoráveis e
colegas quase acéfalos. Sempre tive um zumbido no ouvido que mais se parecia
com um eco que tentava decifrar em vão. Tenho quase certeza que me alertava a
não continuar no curso de Economia. Eu odiava a monotonia dos estudos. O
resultado foi um canudo do qual me arrependo de ter conseguido, noites mal
dormidas e um rosto que se abdicou de sorrir, ausente de expressões, tomado
pela melancolia. Eu era isso, um quadro em branco com uma moldura de
esmorecimento.
Meu interior gritava. Eram gritos
agudos e lancinantes que me tomavam o ar. Eram gritos de vozes aflitas, entremeadas
de surdos lamentos. Eram vozes de tristeza e pesar. Minha existência até então
era um registro invadido pelo branco da nulidade de vida e emoções sentidas. Eu
era ininteligível para todos e inclusive, para mim mesmo. Era um soneto tocado
por um pianista mergulhado nas trevas tentando compor o seu último trabalho.
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