Você pode ver a cidade caindo no
caos. Cidade má, cidade suja, em frangalhos. Os ladrões estão fora das cadeias
lotadas e os negros nas favelas. Os quarteirões e esquinas cheiram a
prostituição, controlada por traficantes donos de espeluncas e empresários tão
sujos quanto os então rios, transformados em esgoto. As ruas trazem uma leve
agonia no ar. Infectada pelos sem-teto, cansada de dar abrigo aos filhos das
ruas. As ruas pedem perdão, não conseguem mais aguentar o peso dos enormes
arranha-céus. O sistema decai e mostra a verdadeira face da sociedade que
vivemos. Nós somos escravos vivendo os nossos sonhos. Sonhos medíocres,
realidades podres, padrões pequenos. Somos encurralados em nossos quintais,
pagando hipotecas e suando para um patrão dar chibatadas em nossas costas nuas.
A ditadura como nunca se viu. O regime, não militar, mas consentido por todos.
A ditadura da beleza, o controle da tecnologia. Escravos.
Assim que a noite cai, façamos nosso
ziguezague percorrendo as ruas sujas e apertadas. Entre bueiros e sinaleiras.
Lixos revirados, cães andarilhos, olhares de medo e tristeza escondido entre um
cobertor e um papelão fétido. As lâmpadas presentem a enorme escuridão que
recairá em cima de todos nós, civis e piscam, como um aviso de que a pior
tempestade está por vir e trará estragos que nem mesmo obras superfaturadas
irão contornar. Esse furacão será interior e entrará na mente do mais simples
pedreiro até o viciado em heroína do bairro pobre. Elementar que iremos bradar
as bandeiras de um país que não nos representa, aclamando uma nova era,
revolução. Seremos tão escravo quanto os negros traficados na África.
Batizaram-nos com uma nova consciência. Sem direitos, cen-sura. Iremos gostar
de tudo aquilo e agradeceremos dando nossos bens, partilhando nossas alegrias
em redes sociais. Tornaremos-nos zumbis. A tecnologia irá sugar tudo, até mesmo
nossas companhias. Ela, a verdadeira responsável por essa constante sensação de
solidão. Os médicos irão receitar os antidepressivos que seus filhos tomam.
As perspectivas se esvaem aos poucos. A esperança não passará de uma nuvem passageira dentre o céu escuro deixando-nos no breu em plena luz do dia. Seremos cegos. Cegos. Cegos e surdos. A mídia irá reproduzir sem ouvidos e o governo irá falar pelo povo. Eu não sei o que realmente importa agora. Odiávamos tanto a alegria partilhada então iremos provar da tristeza coletiva. Nada mais restará. Nada mais importará. Como hoje já não importa.
As perspectivas se esvaem aos poucos. A esperança não passará de uma nuvem passageira dentre o céu escuro deixando-nos no breu em plena luz do dia. Seremos cegos. Cegos. Cegos e surdos. A mídia irá reproduzir sem ouvidos e o governo irá falar pelo povo. Eu não sei o que realmente importa agora. Odiávamos tanto a alegria partilhada então iremos provar da tristeza coletiva. Nada mais restará. Nada mais importará. Como hoje já não importa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário