Perfil

Minha foto
Projeto de escritor. To sempre de malas prontas pra lugar nenhum por que até hoje não achei casa alguma dentro de mim. (Pra saber mais, clique ali em Quem eu sou, à direita)

domingo, 8 de setembro de 2013

Freestyle

        Você pode ver a cidade caindo no caos. Cidade má, cidade suja, em frangalhos. Os ladrões estão fora das cadeias lotadas e os negros nas favelas. Os quarteirões e esquinas cheiram a prostituição, controlada por traficantes donos de espeluncas e empresários tão sujos quanto os então rios, transformados em esgoto. As ruas trazem uma leve agonia no ar. Infectada pelos sem-teto, cansada de dar abrigo aos filhos das ruas. As ruas pedem perdão, não conseguem mais aguentar o peso dos enormes arranha-céus. O sistema decai e mostra a verdadeira face da sociedade que vivemos. Nós somos escravos vivendo os nossos sonhos. Sonhos medíocres, realidades podres, padrões pequenos. Somos encurralados em nossos quintais, pagando hipotecas e suando para um patrão dar chibatadas em nossas costas nuas. A ditadura como nunca se viu. O regime, não militar, mas consentido por todos. A ditadura da beleza, o controle da tecnologia. Escravos.
            Assim que a noite cai, façamos nosso ziguezague percorrendo as ruas sujas e apertadas. Entre bueiros e sinaleiras. Lixos revirados, cães andarilhos, olhares de medo e tristeza escondido entre um cobertor e um papelão fétido. As lâmpadas presentem a enorme escuridão que recairá em cima de todos nós, civis e piscam, como um aviso de que a pior tempestade está por vir e trará estragos que nem mesmo obras superfaturadas irão contornar. Esse furacão será interior e entrará na mente do mais simples pedreiro até o viciado em heroína do bairro pobre. Elementar que iremos bradar as bandeiras de um país que não nos representa, aclamando uma nova era, revolução. Seremos tão escravo quanto os negros traficados na África. Batizaram-nos com uma nova consciência. Sem direitos, cen-sura. Iremos gostar de tudo aquilo e agradeceremos dando nossos bens, partilhando nossas alegrias em redes sociais. Tornaremos-nos zumbis. A tecnologia irá sugar tudo, até mesmo nossas companhias. Ela, a verdadeira responsável por essa constante sensação de solidão. Os médicos irão receitar os antidepressivos que seus filhos tomam. 
           As perspectivas se esvaem aos poucos. A esperança não passará de uma nuvem passageira dentre o céu escuro deixando-nos no breu em plena luz do dia. Seremos cegos. Cegos. Cegos e surdos. A mídia irá reproduzir sem ouvidos e o governo irá falar pelo povo. Eu não sei o que realmente importa agora. Odiávamos tanto a alegria partilhada então iremos provar da tristeza coletiva. Nada mais restará. Nada mais importará. Como hoje já não importa.

Nenhum comentário: