Todos
os caminhos pareciam me levar a aquele prédio de má manutenção. No meio da
caminhada retomava meus pensamentos e motivos para estar adentrando aquela
área. A calçada concentrava todos os tipos de lixos, até humanos. O bairro
pobre e sujo parecia uma cidade medieval. Meus passos largos e rápidos eram
avistados pela vizinhança. Os olhares receosos dentro das casas, por trás das
cortinas. Eu rumei àquele prédio em ruínas, um reflexo do meu estado emocional.
Coloco para dentro de mim todas as dúvidas que se agarravam nas minhas roupas
desesperadas para sair. Os olhos pesados e a respiração ofegante ficavam mais
fortes com o barulho dos passos naquela escada de tinta verde descascada. O
primeiro andar já tinha sido percorrido e faltava mais um.
Perfil
- Frederico de Barros Silva
- Projeto de escritor. To sempre de malas prontas pra lugar nenhum por que até hoje não achei casa alguma dentro de mim. (Pra saber mais, clique ali em Quem eu sou, à direita)
terça-feira, 12 de novembro de 2013
domingo, 3 de novembro de 2013
lê minski
Eu não
gosto muito de poesia, confesso. Nunca me chamou atenção e até então, só havia lido Caixa de Sapatos do Carpinejar de poesias e gostei bastante. Até prefiro o lado poeta de Carpinejar do que o cronista
propriamente dito. Acho que ele acaba por repetir excessivamente até se tornar
chato. Mas isso depende bastante de cada um e do seu estilo.
Comprei
faz pouco tempo o Tudo Poesia do Leminski, Companhia das Letras. Não tenho o
que dizer. É fantástico o livro. Toda a obra de Leminski reunida ali. Lembro-me
de ter visto aquela capa laranja e o bigode vistoso e ter planejado na primeira
oportunidade em que tivesse dinheiro, compra-la. Tô na página 300, por aí, é a
última parte do livro. Cada poema me faz pensar ou me tira um sorriso do rosto.
Gostei e recomendo. Pena Leminski ter ido embora tão cedo.
domingo, 27 de outubro de 2013
Atribuição de valor
Está acontecendo a campanha à reitoria da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), onde estudo faz dois
anos. Os ventos da mudança sopram com violência. Há uma nítida sensação de que
algo virá. Todos anseiam por isso, mas não sabem descrever esse sentimento. Por
todos os lados estão espalhados banners e vemos pessoas entregando folhetos com
as ideias de cada chapa. As pessoas conversam nos blocos sobre a eleição, mas
não abrem votos. Alguns mostram claramente o seu candidato e procuram fazer campanha
para tal, diminuindo ou até criticando os adversários. A academia está em
estado de ebulição.
Conheço dois candidatos, somente um
não conhecia antes da campanha. Alguns integrantes de chapas foram meus
professores e guardo um carinho enorme pelos profissionais que são. Há boas
propostas e em tese, vejo uma grande fatia ainda indecisa sem saber em quem
votar. Existem também aqueles que não votaram seja por falta de informação ou
por abdicar de seu direito. Por fim, não abrirei meu voto também, estou longe
de decidi-lo. Ainda quero ouvir o que eles têm a dizer, claridade sobre o que
pensam e desejam para o futuro da instituição.
Muitos se decidiram, seja por
afinidade ou outros motivos. Um dos candidatos fora meu professor em Leitura e
Produção de Textos. Foi nessa disciplina onde escrevi meu primeiro conto, ano
passado. Foi ‘Obrigado, John’, um conto mal escrito, meio corrido, mas que naquele
momento achei incrível. Quem pudera fosse. Hoje olho para trás e vejo que
aquele oito que recebi foi generoso. O mesmo professor passara para nós o conto
de Poe, O coração delator. Na época não sabia o quão magnífico era este conto,
fui perceber sua importância somente depois de algum tempo.
Muitas vezes acabamos atribuindo valor
a uma pessoa. Seja por um motivo específico, data importante ou outro quesito
especial. Nomes de pessoas que gostamos se quando pronunciados por estranhos nos parecem tão familiar. Números relembram datas comemorativas, na grande maioria, especiais. E tornamos a decidir certas coisas baseadas nisso. Atribuo valor ao
professor por ter me introduzido na literatura. Existem músicas, fotos,
palavras, frases que se tornam um marco para nós. Nós impomos valor para
aquilo. As pessoas tem seu significado atribuído pelo valor que damos a elas. Isso
é mais comum que se pensa. Fazemos isso quase que inconscientemente. E sobre
meu voto, ainda vou pensar um pouco sobre, analisar e ver o que é melhor.
sábado, 19 de outubro de 2013
Fora do mapa
[...] Conhecer
países que nunca visitarei, me apaixonar por personagens fictícios, viver
sentimentos que não vivenciarei. A sensação de que a vida é um grande erro e
estamos aqui, fadados, de passagem, à espera de que algo nos tranquilize, nos
conforte, nos conforme de que, tudo bem, em algum momento as coisas irão se
ajeitar e vão rumar para o caminho certo. Essa crença desenfreada de que tudo
tem um motivo e se alguém ou algo está acima de nós e nos olha, este alguém
está nos observando e zelando pela nossa insignificante trajetória. Tudo o que
eu quero é voltar para o início. Deitar-me em minha cama e acreditar que o dia
irá raiar belo. Essa bela e triste crença de que algum dia tudo fará sentido,
de que nada é em vão e tudo que fizemos se perdura mesmo sem nosso
consentimento. Por favor, eu espero que um dia tudo isso faça sentido. Que isso
não seja o desperdício de anos de esforço consentido. Que algo rogue por mim,
que os céus se abram em um clarão de outono e os ventos prosperem para um lugar
fora do mapa. Seja ele do mundo inteiro, seja eu do mundo inteiro ou do nada. E
mergulharei.
Texto postado em meu tumblr. Clica aqui pra ver ele.
domingo, 13 de outubro de 2013
O tempo
Por
um momento eu contemplo a luz cintilante que passa entre pequenos espaços
deixados pela cortina. Há uma sensação de que algo se aproxima. Não é mais do
que uma sensação, mas provoca certa angústia. Angústia esta que pode se
transformar em decepção. Não existem caminhos por onde percorrer e se isto que
chamamos de destino está regendo as nossas vidas, resta-nos somente esperar
para que o círculo se complete. Eu olho para o relógio de pêndulo encostado na
parede instalado desde os primórdios na minha família e espero-o ansiosamente
por algo que não sei o que é.
Não
saberia dizer com maestria o que sinto. Somente dar uma explicação genérica de
que estou cansado. Não saberia também responder se estou cansado por não saber
o que sinto ou não sei o que sentir pelo estado de cansaço. Mentes ligadas e
dias abertos em meio aos problemas que afugentam meu sono. Madrugadas inteiras
com as luzes acesas. Este sórdido momento em que a minha mente não está em
sincronia com nada. Desnorteado. Pela espera, pela rotina, pelo tédio e a
depressão que me assola ao sol cair. Sentimento este que partilho pela falta.
Só em poucas ocasiões isto se mostra. Principalmente quando se está apaixonado.
Outro sintoma é escrever compulsivamente coisas inaudíveis que nunca iriam sair
da mente, nem mesmo de nossas bocas fadadas ao gosto da amargura destes longos
dias de espera. Gravidade, me acuda pois estou caindo.
domingo, 6 de outubro de 2013
Ventos
Café preto
forte com gotas perdidas em uma xícara branca com detalhes minimalistas fracos
em tom de marrom. Cansaço matinal pesando. Cabeça cheia de pensamentos avulsos
aglutinados em uma mente confusa. Maços de cigarros esparramos por uma mesinha
pequena. Os braços cansados se debruçam em cima da mesa de madeira. Olho para o
lado e vejo o tempo correr. O tempo leva-o pelo horizonte. O tempo já fora
desperdiçado. Os anos passaram e a xícara está pela metade, com o líquido negro
já frio. Quem dera fossem outros tempos, outros ventos. Quem sabe em outros
verões e primaveras veremos os lírios de nossos campos verdes e os frutos
amadurecerem das árvores que se apresentam magistrais em nossos caminhos.
domingo, 29 de setembro de 2013
Resenha
Confira abaixo
no Raplogia, a resenha que fiz sobre o álbum Nothing Was The Same. Link: http://freeraplogia.wordpress.com/2013/10/02/review-drake-nothing-was-the-same/
domingo, 22 de setembro de 2013
Quiçá
Bom, tenho
consciência de que o nível aqui mostrado está bem baixo. Isso se dá por algumas
razões como a falta de tempo e outros contratempos que me impedem de poder
escrever todos os dias e quiçá colocar conteúdo aqui. Grande parte da minha
produção está indo para um projeto de livro. São contos, mais extensos, alguns
de até seis páginas. Não coloco aqui pois a grande maioria das editoras pediria para retirar o conteúdo. Eles exigem conteúdo original, nunca antes publicado. Assim como prêmio literários.
Mas enfim, domingo
que vem tem um texto melhor do que este autoexplicativo. Ainda vou pensar se
escrevo e coloco algum conto aqui. Quem sabe, né? Por falar nisso, ando lendo Clube da Luta e Barba Ensopada de Sangue. Dois ótimos livros, principalmente o segundo. A narrativa de Daniel Galera se dá de forma sutil e envolvente. Ao mesmo tempo em que estou lendo ambos, também leio Ensaio sobre a cegueira. Acabei por descobrir (tardiamente) que Saramago é incrível. E tudo isso está refletindo na minha literatura (para melhor). E enfim, espero poder mostrar pra quem lê aqui essa melhora.
domingo, 15 de setembro de 2013
Alegria
Deixa por aí. Coloca em qualquer
lugar. Entre a cabeceira de madeira ou nos livros da estante de ferro da
parede. Esconde entre a poeira dos papéis e a melancolia ao lado dos meus
desenhos. Por mim tanto faz. Já fiz tanto que agora tanto faz. Escolhe onde querer
colocar, pois pra mim, tanto faz. Já não importa há muito tempo. Sem graça.
Esse quarto já esquecido, escurecido onde tudo eu organizo a minha bagunça. Não
tem jeito mesmo. Já tive tempo, hoje não tenho. Nem por isso era diferente. Mas
pega um café. Açúcar ou adoçante? Entra pra ver. Entra pra enxergar o meu
mundo. Aconchega-te entre os meus lamentos e a cadeira velha que range ao mexer
para os lados.
Olha os discos tão parados. Tão
solitários a espera de um ‘play’. Ó os brinquedos. Cansados, pensativos, já se
foi o tempo deles. Que nostalgia. Antigamente isso parecia bem mais familiar.
Antigamente isso nem parecia um quarto. Era parte de mim. Parte essa feliz.
Hoje virou meu muro de lamentações. É a válvula de escape. Catarse. Como eu
queria que não fosse assim. Poderia valer, ser menos ‘tanto faz’. A gente cansa
de quem escolheu ser e ter ao seu lado. Essa exaustão causada pelo desgaste
natural que o tempo traz a tudo aquilo que é nosso. É isso. Nós cansamos de ser
feliz. Colocamos em qualquer lugar. Mas não importa mais. Tanto faz. Ficou pelo
caminho. Como tantas outras coisas ficaram a frente da minha alegria.
domingo, 8 de setembro de 2013
Freestyle
Você pode ver a cidade caindo no
caos. Cidade má, cidade suja, em frangalhos. Os ladrões estão fora das cadeias
lotadas e os negros nas favelas. Os quarteirões e esquinas cheiram a
prostituição, controlada por traficantes donos de espeluncas e empresários tão
sujos quanto os então rios, transformados em esgoto. As ruas trazem uma leve
agonia no ar. Infectada pelos sem-teto, cansada de dar abrigo aos filhos das
ruas. As ruas pedem perdão, não conseguem mais aguentar o peso dos enormes
arranha-céus. O sistema decai e mostra a verdadeira face da sociedade que
vivemos. Nós somos escravos vivendo os nossos sonhos. Sonhos medíocres,
realidades podres, padrões pequenos. Somos encurralados em nossos quintais,
pagando hipotecas e suando para um patrão dar chibatadas em nossas costas nuas.
A ditadura como nunca se viu. O regime, não militar, mas consentido por todos.
A ditadura da beleza, o controle da tecnologia. Escravos.
Assim que a noite cai, façamos nosso
ziguezague percorrendo as ruas sujas e apertadas. Entre bueiros e sinaleiras.
Lixos revirados, cães andarilhos, olhares de medo e tristeza escondido entre um
cobertor e um papelão fétido. As lâmpadas presentem a enorme escuridão que
recairá em cima de todos nós, civis e piscam, como um aviso de que a pior
tempestade está por vir e trará estragos que nem mesmo obras superfaturadas
irão contornar. Esse furacão será interior e entrará na mente do mais simples
pedreiro até o viciado em heroína do bairro pobre. Elementar que iremos bradar
as bandeiras de um país que não nos representa, aclamando uma nova era,
revolução. Seremos tão escravo quanto os negros traficados na África.
Batizaram-nos com uma nova consciência. Sem direitos, cen-sura. Iremos gostar
de tudo aquilo e agradeceremos dando nossos bens, partilhando nossas alegrias
em redes sociais. Tornaremos-nos zumbis. A tecnologia irá sugar tudo, até mesmo
nossas companhias. Ela, a verdadeira responsável por essa constante sensação de
solidão. Os médicos irão receitar os antidepressivos que seus filhos tomam.
As perspectivas se esvaem aos poucos. A esperança não passará de uma nuvem passageira dentre o céu escuro deixando-nos no breu em plena luz do dia. Seremos cegos. Cegos. Cegos e surdos. A mídia irá reproduzir sem ouvidos e o governo irá falar pelo povo. Eu não sei o que realmente importa agora. Odiávamos tanto a alegria partilhada então iremos provar da tristeza coletiva. Nada mais restará. Nada mais importará. Como hoje já não importa.
As perspectivas se esvaem aos poucos. A esperança não passará de uma nuvem passageira dentre o céu escuro deixando-nos no breu em plena luz do dia. Seremos cegos. Cegos. Cegos e surdos. A mídia irá reproduzir sem ouvidos e o governo irá falar pelo povo. Eu não sei o que realmente importa agora. Odiávamos tanto a alegria partilhada então iremos provar da tristeza coletiva. Nada mais restará. Nada mais importará. Como hoje já não importa.
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