Eu
o olhei com certo receio e nem cheguei a cumprimenta-lo com um aperto de mão. Ele mais me parecia um integrante do Los
Hermanos, mas mesmo assim me tocou de uma forma estranha. E um homem adulto que
assim como eu introspectivo e calmo me deu certo conforto. Eu mal o conhecia,
tampouco havia lido algo dele. Mas eu estava entusiasmado, já tinha ouvido
falar seu nome no jornal, alguma revista, não era um total ignorante no caso.
Durante a entrevista me atrapalhei todo. Me atrapalhei ainda mais depois de sua
resposta derrubar a minha pergunta. A maioria dos entrevistados procura não
entrar em detalhes com um jovem repórter. Ele disse ali e simplesmente me
mostrou coisas que depois de algum tempo fui perceber como acontecem.
Daniel Galera
fez eu me apaixonar pela literatura. Se antes já escrevia, depois de ler suas
obras me tornei um fã e escritor melhor. Não, não sou um escritor pronto, muito
menos perto disso, mas me toquei da dimensão da escrita. Não é simplesmente
escrever algo e acreditar que aquilo está bom. Eu me cobro, eu refaço, mudo
palavras, pesquiso, penso. 90% do tempo em que não estou falando, estou
pensando no que escrever. Os 10% restante são falas que me fazem repensar em
algo para ser escrito. É triste que a literatura não seja vista como algo
imprescindível aqui em nosso país, não está na nossa cultura. E sim, eu sei que
o campo literário é difícil. Provavelmente vou ganhar pouco, ter o mesmo visual
dele, com barba para fazer e cabelo bagunçado, porém é isso que quero. Sinto
que nasci para isso como se fosse o presidiário que está condenado somente a aquilo.
Não me resta nada mais além de escrever.
Não
sei fazer cálculos, existem pessoas que fazem cálculos científicos em 10
minutos. A única coisa que consigo fazer bem é isso. Não diria que é um dom,
mas não há nada que eu consiga fazer tão bem quanto, nada me atrai, nada me deixa
mais compenetrado do que o hábito de juntar palavras e fazer um texto. São
estórias dentro de mim, são personagens que habitam o interior da minha mente
com detalhes ricos embora não os conheça até pegar a caneta. É difícil às
vezes, mas sempre sai algo bom. É como o parto de uma criança, é dar vida a um
texto, dar vida a algo que está dentro de você. Às vezes dói, como um
nascimento. São dores físicas, espirituais, é retirar toda tristeza de você e
por em um papel.
Novamente
me pego na dúvida. Não sei se chegarei a escrever, muito menos se me tornarei o
que espero e projeto, embora tenha colocado entre meus objetivos lutar para que
isso ocorra. E é a mais nobre das profissões. Nossos ancestrais já o faziam em
cavernas em forma de desenhos. A narrativa está presente desde que descobrimos
o fogo. Minha única alternativa é fazer como eles e narrar tudo aquilo que se
passa dentro de mim.
2 comentários:
Frederico, sempre me surpreendendo. Cada textos melhor e mais maduro,meus parabéns.
Obrigado pelos elogios!
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