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Projeto de escritor. To sempre de malas prontas pra lugar nenhum por que até hoje não achei casa alguma dentro de mim. (Pra saber mais, clique ali em Quem eu sou, à direita)
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domingo, 9 de junho de 2013

Galera

Eu o olhei com certo receio e nem cheguei a cumprimenta-lo com um aperto de mão.  Ele mais me parecia um integrante do Los Hermanos, mas mesmo assim me tocou de uma forma estranha. E um homem adulto que assim como eu introspectivo e calmo me deu certo conforto. Eu mal o conhecia, tampouco havia lido algo dele. Mas eu estava entusiasmado, já tinha ouvido falar seu nome no jornal, alguma revista, não era um total ignorante no caso. Durante a entrevista me atrapalhei todo. Me atrapalhei ainda mais depois de sua resposta derrubar a minha pergunta. A maioria dos entrevistados procura não entrar em detalhes com um jovem repórter. Ele disse ali e simplesmente me mostrou coisas que depois de algum tempo fui perceber como acontecem.
Daniel Galera fez eu me apaixonar pela literatura. Se antes já escrevia, depois de ler suas obras me tornei um fã e escritor melhor. Não, não sou um escritor pronto, muito menos perto disso, mas me toquei da dimensão da escrita. Não é simplesmente escrever algo e acreditar que aquilo está bom. Eu me cobro, eu refaço, mudo palavras, pesquiso, penso. 90% do tempo em que não estou falando, estou pensando no que escrever. Os 10% restante são falas que me fazem repensar em algo para ser escrito. É triste que a literatura não seja vista como algo imprescindível aqui em nosso país, não está na nossa cultura. E sim, eu sei que o campo literário é difícil. Provavelmente vou ganhar pouco, ter o mesmo visual dele, com barba para fazer e cabelo bagunçado, porém é isso que quero. Sinto que nasci para isso como se fosse o presidiário que está condenado somente a aquilo. Não me resta nada mais além de escrever.
Não sei fazer cálculos, existem pessoas que fazem cálculos científicos em 10 minutos. A única coisa que consigo fazer bem é isso. Não diria que é um dom, mas não há nada que eu consiga fazer tão bem quanto, nada me atrai, nada me deixa mais compenetrado do que o hábito de juntar palavras e fazer um texto. São estórias dentro de mim, são personagens que habitam o interior da minha mente com detalhes ricos embora não os conheça até pegar a caneta. É difícil às vezes, mas sempre sai algo bom. É como o parto de uma criança, é dar vida a um texto, dar vida a algo que está dentro de você. Às vezes dói, como um nascimento. São dores físicas, espirituais, é retirar toda tristeza de você e por em um papel.
Novamente me pego na dúvida. Não sei se chegarei a escrever, muito menos se me tornarei o que espero e projeto, embora tenha colocado entre meus objetivos lutar para que isso ocorra. E é a mais nobre das profissões. Nossos ancestrais já o faziam em cavernas em forma de desenhos. A narrativa está presente desde que descobrimos o fogo. Minha única alternativa é fazer como eles e narrar tudo aquilo que se passa dentro de mim.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Barba ensopada de sangue

Eu estava com as mãos ensanguentadas. Limpei-as desesperadamente em minha camiseta que já estava cheia de sangue. Não conseguia distinguir de onde vinha tudo aquilo. Sentia tonturas, suava frio e tinha um princípio de enjoo. Naquela hora passou um flashback na minha cabeça, bem clichezão, mas diria que era algo como um filme.
Cada pedaço do meu corpo pulsava descontinuamente, meu rosto estava branco como se tivesse visto um fantasma, pelo espelho eu podia ver o medo brotando pela proximidade da morte. Odiava sangue, inclusive quando não era meu. Além do mais, as paredes tinham marcas de um massacre e tudo o que eu conseguia pensar era me indagar sobre o que havia acontecido nesse lugar.
Puxei minha camiseta e a limpei em minha barba. Ao olhar para o espelho verifiquei um corte na minha barriga, profundo e ao olhar isso até o local doía. Parecia sem solução, parecia que a morte viria me buscar hoje. Tentei me levantar mas já estava muito fraco, não teria forças porém isso não me impediu de tentar uma, duas, até três vezes sem sucesso.

Minhas lágrimas salgadas caiam e se misturavam com o sangue, se tornando uma interessante mistura. Olhei-me novamente naquele reflexo por alguns segundos quando consegui entender que apesar da visão turva, aquela barba ensopada de sangue era o retrato de um crime. Cometido contra mim mesmo.