Alguns
amigos que fiz na vida adulta são tão imaginários quanto os que criei durante a
infância. Vivi romances tão fantasiosos quantos os de novelas e filmes. Fui
cercado de pessoas que nunca me deixaram marcas, assim como o vento, em um
sopro se dissiparam como minúsculas partículas. Durante toda minha trajetória,
não houve algo que eu pudesse chamar de meu, e é de fato, que a partir disso
comecei a colecionar vazios. Minha irmã tinha uma enorme coleção de pequenos
brindes que ganhava naquela antiga promoção da Coca-Cola. Tratava todos como se
fossem feitos de um vidro frágil, prestes a quebrar. Assim como ela, mantinha
cuidado semelhante com meus silêncios e vazios.
É
engraçado que esses ditos cujos me marcaram muito mais do que surra por mal
comportamento. Eram mais visíveis que o couro em detalhes no meu corpo, me
agradava mais do que qualquer beijo inesquecível com sabor inefável que recebi.
Silêncios me moldaram muito mais que o comportamento de meus pais. Quando se é
pequeno, qualquer adulto mais próximo se torna referência, porém podemos dizer
que sou uma exceção.
Às
vezes ao observar a selva de concreto com suas luzes cintilantes, os
arranha-céus em meio as árvores que cada vez mais se parecem cinzas, como se
tornassem parte dos prédios, sou tomado por um medo descomunal. Um mergulho às
minhas profundezas onde não existe volta. É atemporal, é de tirar o fôlego,
algo que me preenche por inteiro. Vem com um tom agridoce de surpresa e azedume
melancólico quando se esvai pelas minhas mãos. Me faz bem, me faz mal, um misto
de perigo e aventura, é como degustar incerteza, a vertigem de uma queda sem
precedentes.
Me
questiono se não sou de outro mundo. Às vezes tenho quase certeza de que sou de
outro mundo, às vezes acredito que existe outro mundo em mim. Neruda com
certeza concordaria comigo.
(Posto duas vezes hoje pois semana passada não consegui)
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