Perfil

Minha foto
Projeto de escritor. To sempre de malas prontas pra lugar nenhum por que até hoje não achei casa alguma dentro de mim. (Pra saber mais, clique ali em Quem eu sou, à direita)

domingo, 28 de outubro de 2012

(Raplogia)


A maioria das pessoas aqui provavelmente sabe que escrevo no Raplogia, blog de Rap do meu mano Joe. Passamos por um imprevisto durante a madrugada de sábado para domingo. O blog acabou sendo suspenso pela música She, do rapper Big Sean. Conseguimos recuperar o material, mas o url do site acabou mudando. Portanto, de agora em diante não será mais raplogia.wordpress.com e sim freeraplogia.wordpress.com. Contamos com a participação de todos que leram esse pequeno anúncio aqui para mantermos a média de mil acessos diários. 

Free Raplogia:


*Por esse motivo, não teremos postagens hoje.

sábado, 27 de outubro de 2012

Conto - Obrigado, John


Cap I (Dia 1)

John é um filho dessas estradas asfaltadas, uma cria do deserto. Ninguém ao certo sabe de onde ele veio e pra onde vai. Ele apenas vai e vem, em busca de algo que nunca vai achar. Sempre viajante, sempre se mudando, sem deixar rastros ou criar laços. Não tem amigos, nem mulheres, mas tem respeito. Este, conquistado por seu jeito truculento, olhar de cigano e sua cara fechada. Seus braços cheios de tatuagens provocam arrepios em Nevada, sua moto desperta a inveja dos homens nas mesas de bares. Na solidão sua melhor amiga, é perfeitamente só. Há lendas de que ele teve uma mulher que morreu, fazendo com que John não mostrasse mais sentimento algum.
Mesmo sendo um dia incomum, ele fez o que faz quase todos os dias quando não está viajando: foi ao bar tomar uma dose de uísque. Olivia, a atendente, já vai preparando a dose ao vê-lo entrar no bar. Mas esse não era um dia qualquer e ao ouvir a voz de John, ela deixou o copo cair. Envergonhada, limpou o chão e trouxe a dose. Em 10 anos ela ouviu a voz dele apenas em 3 ocasiões,  e em todas elas a noite acabou mal. Olivia observava John atentamente e os sinais não poderiam ser piores. Suas mãos tremiam e suavam, John volta e meia fechava os olhos e os abria como se estivesse fazendo um enorme esforço. Ele ajeitava a gola de sua camisa como se fosse uma corda no pescoço o sufocando. Havia uma coceira em sua garganta, queria falar e Olivia notava aquilo. Era um dia estranho e ele que no máximo disparava meias palavras ou frases incompletas parecia ter um discurso decorado.
No Bar Bauhaus, ele era uma figura ilustre, quase de casa, conhecia todos, todos conheciam John, quase uma família que ele nunca teve, pelo menos em seus relatos. Mas todos sabiam o episódio mais trágico de seu passado obscuro: a morte de sua esposa. Eles eram como Bonnie & Clyde, uma dupla perfeita. Completavam-se como irmãos, eternos amantes e cúmplices de assaltos e roubos, nunca errando o tempo, sempre se safando das autoridades. Até aquele maldito dia em que tudo deu errado. Eles nunca erravam o timming, mas naquele dia John perdeu segundos, pequenos segundos que fizeram toda a diferença. Por segundos, sua amada Laura poderia estar viva, poderia agora estar em seus braços, poderia... Porém, John errou o tempo, e no tiroteio, aquela bala acertou em cheio Laura que caiu de sua moto já morta. 
Foram anos na solitária até ser solto. E em todos os dias ele se lembrava do mesmo dia. John chegou a viajar o país inteiro, sendo transferido de cadeia em cadeia. Mesmo virando um homem livre, John nunca conseguiu se ver livre de seus demônios internos e a bebida, era a sua saída. Alcoólatra alguns diriam, para outros um amante do uísque. O certo é que John nunca foi o mesmo depois daquele dia, vivendo por dias de ócio puro e noites de embriaguez em que ele parava em cidades desconhecidas sem saber o que tinha feito anteriormente. Ele era uma alma perdida sem rumo algum, tinha um emprego, mas não tinha raízes. Era dono da sua liberdade, mas prisioneiro do seu passado e dentre todas as mulheres que ele provou, nenhuma conseguiu fazê-lo esquecer de Laura. 
Naquela noite, no Bar, Olivia sabia que John provavelmente iria discorrer como uma cachoeira descarrega suas águas para baixo, mas não queria parecer atenta ao seu desespero, mesmo que visse os olhos marejados de John. Foi aí que John abriu a boca, mas era baixo demais para ela ouviu. 
- O que falou John?
Novamente um murmuro rouco. Aquele homem que sempre ostentou força parecia não conseguir abrir a sua boca.
- John, você está bem? - Indagou Olivia 
E tudo que ela ouviu como resposta foi um choro. John chorava copiosamente. Ao ver Olivia se aproximar ele pegou seu chapéu e saiu em ritmo disparado, como nos velhos tempos, como se ela fosse a Polícia. 
Ao chegar no Hotel, pegou sua chave e abriu sua porta. Trancou a fechadura e foi deslizando até se sentar no chão olhando para a parede como se a gravidade o puxasse com toda força para baixo. Um pequeno filme passou em sua cabeça, ao ver que tinha passado os 5 últimos anos em branco, sem emoções, sem lembranças, sem acontecimentos e sem viver, principalmente. Seu hobby, a literatura, foi esquecido, as armas nunca mais dispararam uma bala, mesmo que sempre carregasse em seu cinto e seu rosto, nunca mudou de expressão. John parecia um velório andante, um morto-vivo sem alma. Em seu passeio por noites adentro fez alguns amigos que parecem mais imaginários do que os que fez na infância, experimentou beijos molhados que não tocaram em nada o seu coração seco. John se debatia, quebrava móveis até chegar ao banheiro, onde se olhou no espelho. Aquele foi um olhar para dentro de sua alma, se é que ainda tinha alguma. Naquele momento ele decidiu: iria cometer suicídio. 
Pegou as balas, carregou a arma e apontou para sua cabeça. O cano gelado parecia falar com aquele homem à beira da insanidade, pedindo que ele fizesse, pedindo que ele puxasse o gatilho: 
- Vamos, você não vai perder nada. Deixe sua vida vazia aqui.
As lembranças de Laura passavam pela sua cabeça e tudo que pensava era em acabar com o pouco de vida que restou à ele. E finalmente ele parecia decidido, iria fazer de uma vez por todas. Um rápido olhar para a arma e então apontou em direção a sua boca.
Foi então que ouviu um barulho, mas não era um barulho comum, Por um momento pensou que estivesse surdo. Ao abrir os olhos viu metade do seu quarto em pedaços. Nada mais importava naquele instante, nem a arma ou a possibilidade de se suicidar. Os céus ardiam em chamas e a noite que antes era tão negra foi dominada por pontos luminosos que iam em direção à Terra. Abismado, ele avistou quase a cidade toda em chamas. Os moradores que resistiram a essa chuva de objetos desconhecidos vindos do céu, saiam de suas casas e foi aí que encontrou Olivia com escoriações leves na grama. Ajudou-a à levantar com alguma dificuldade quando viram a bola de fogo que havia iniciado tudo isso. 
Parecia idiota, mas eles sabiam que não era incomum que alguns meteoros de tempos em tempos caíssem na Terra. Em média, eram pequenos, eram meteoritos, mas ninguém poderia imaginar que algo tão grande chegasse até aqui. Pessoas feridas, pessoas sangrando, alguns choravam e outras estavam rezando. Nevada seria o ponto inicial do final do mundo, e ele começaria hoje. 


Cap II


Ficamos atônitos por alguns segundos, tentando entender o que recém havia acontecido. O silêncio era gritante, ouvia-se apenas o som das chamas. Ninguém sabia o que esperar, nem o que pensar. Comemorar por estar vivo ou chorar por quem morreu? Agradecer pela chuva de meteoros ter parado ou se manter equilibrado e atento a qualquer sinal? Se apegar em uma crença ou manter-se cético diante de tudo que passou?
Acontecimentos como estes costumam fragilizar o emocional das pessoas, as deixa em pânico e algum tem um tipo de epifania. Em meio a destruição, John mantinha neutro, sem mudar expressão alguma. Parecia estar preparado para qualquer coisa, matar ou morrer, mas principalmente para morrer.
- Vamos Olivia, levante-se. - Ordenou John.
- Você está louco? Para onde iremos? Como vamos ir? Não está vendo a minha perna?
Você quer morrer aqui, hein? Me diga! O que nos resta a fazer aqui? Como sabes que não vão acontecer novamente? – Gritou John, em um tom ensurdecedor. Em 10 anos, ela nunca escutou aquele homem falar de um jeito tão forte. Não precisaria de um outro convite, ela apenas levantou com dificuldades, auxiliada de uma forma bruta por aquele homem que a cada momento mostrava uma nova face. O ar de desamparo pairava sob suas cabeças e não havia nada a fazer, ou até havia, ir embora era a decisão mais sensata que ambos tiveram naquela noite. Tomada a decisão, estava na hora de caminhar, e assim foi, por milhas e milhas eles seguiram um rumo desconhecido. A cada metro completado, um olhar para trás e como em uma infinita highway, seus passos pesados pareciam não levar à nenhum final.
- John, minha perna está sangrando demais! – Exclamou a sua companheira de viagem, que não conseguiu chamar a atenção, até desabar no chão.
Ele estava brabo, resmungou um pouco e então sentou no chão cheio de pedras e areia. Ela apenas o observava à distancia. John saiu caminhando, deixando-a indefesa no meio de oásis vazio. Seus gritos de nada adiantaram, e aos poucos seu corpo parecia um vulto imerso na escuridão. Minutos de apreensão. Aquela mulher era uma presa fácil para qualquer um ou qualquer coisa. Animais selvagens? Bandoleiros? Ruídos faziam seu coração acelerar, afinal, se algo acontecesse nada poderia fazer, nem fugir. Olivia gritou o nome de John alto algumas vezes em vão, entendeu que estava apenas por si mesma ali. Recolheu-se em um canto, o coração palpitava e ela se sentia cada vez menor. Minutos se passaram e ele chegou com alguns pedaços de pau e rochas. Não disfarçava sua raiva, mas o sentimento de alívio por não estar sozinha era maior que o ódio de ter sido exposta à essa situação. As mãos de John começaram a se mexer e uma fogueira começava a tomar forma. Depois de um pouco de insistência, o fogo aos poucos começava a crescer. Ambos estavam cansados. Não era o melhor lugar para se dormir, nem tinham alimentos ou água, mas algumas horas de sono eram essenciais para seguir a jornada no outro dia. E assim se fez, com John de um lado da fogueira e Olivia de outro.



Cap III (Dia 2)


Um barulho no ar e as moscas rodeando o rosto de John o acordaram. Atordoado, ele coçava os olhos que se abriam lentamente com dificuldades. Olhou para os galhos todos queimado, restava apenas a fumaça da fogueira da noite anterior. Seus olhos procuravam por Olivia, que estava à alguns metros de distância, rodeada por corvos que pareciam prontos para fazer de sua perna a refeição do dia. Ele acordou e foi cambaleando ao encontro dela, tentando espantá-los com gritos. O dia já começava difícil e esse era um demonstrativo de que as coisas iriam ser piores.
A busca por um pouco de água, e com alguma sorte, alimentos era incessante. Algumas horas caminhando entre o interior de Nevada e a próxima cidade. As rochas sedimentares serviam de apoio e o terreno montanhoso fazia a caminhada ser cada vez mais cansativa para ambos que pareciam esgotados mesmo que o dia tivesse recém começado.  Faziam pausas de 30 em 30 minutos, nesse intervalo de tempo, John procurava se orientar em meio ao nada, tentando adivinhar que horas eram pelo sol. Os pés doíam, as pernas pareciam não aguentar mais, o sol castigava e a busca por mantimentos acabou fracassando. Foi assim durante a tarde toda. Sem nenhum sinal de vida, nem animais, o que era estranho demais, mas dados os últimos acontecimentos, era compreensível de certa forma.
Ao entardecer acharam um pequeno riacho, aquilo valeu o dia. A alegria de encontrar um pouco de água compensava a longa peregrinação feita por aqueles dois no meio do nada. Olivia percebeu o sorriso de John ao se banhar e ele retribuiu o sorriso. Ambos gargalhavam como se tivessem achado um tesouro. Em meio a tudo, isso mantinha a esperança de sobreviver. O instinto humano falava mais alto, eram guerreiros, eram sobreviventes, passando por obstáculos cada vez maiores. Por um momento até se pensou que aquilo acabaria bem, que ambos iriam conseguir, pelo menos, um deles.

Dia 3

A ferida na perna de Olivia parecia não cicatrizar. Algumas larvas eram vistas na superfície da pele arranhada. Olivia sentia repulsa e toda vez que olhava para o local sentia seu estômago na garganta, por vezes vomitou. John procurava pensar em alguma solução. Foram alguns momentos de silêncio até que ele passou os dedos pelo lugar, fazendo Olivia se contorcer de dor. Para seu espanto, ele pegou 3 pequenas larvas e comeu. Ela olhou aquela cena com um misto de nojo e raiva. Antes que pudesse falar algo, ele tratou de explicar calmamente:
- Não temos comida. Larvas tem grande valor calórico. Se quiser sobreviver, vai ter que comer, antes que elas comam sua perna. – E acabou a frase com um pequeno sorriso.
Mesmo que quisesse xingá-lo, ele tinha razão. Não foram poucas as tentativas, mas depois de fracassar em algumas ela engoliu as larvas. Depois de uma pequena refeição, novamente a caminhada começava. Olivia se apoiava em John, cada vez mais com dificuldades de andar.
Horas vagando. Sol escaldante. Por vezes apareciam algumas nuvens. Tudo indicava que estavam à caminho de Las Vegas. Ao caminhar ambos observavam que Nevada não foi o único lugar bombardeado pela chuva de meteoros.
Pedras. Muitas pedras, de todos os tamanhos, gigantes, grande e algumas pequenas. Meteoritos estavam em maior número, mas não era isso que os preocupava. Fumaça e larva podiam ser vistos dos meteoros grandes. Não chegava ser em grande quantidade, mas aquilo fazia o clima ficar mais árido.  Estranho, incomum, um fenômeno diferente de qualquer coisa vista. O pouco conhecimento que tinham sobre pedras vindas do espaço dizia que lava não era normal, muito menos um bom sinal. Mesmo assim, não havia tempo para se preocupar com isso, encontrar pessoas e buscar alimentos eram as prioridades da lista e foi isso que fizeram. Desidratados, o que os sustentava era a esperança de que algo surgisse. Toda noite Olivia rezava baixinho, John não se apegava a nada, não acreditava em nada, nem eu sua parceira naquele episódio. A sua reza pouco adiantava, mas nos momentos de fraqueza todos somos iguais, todos acreditamos em algo ou alguém. Para ela, Deus estava do lado deles, os guiando. Para ele, nada mais era do que um outro dia, um dia péssimo atrás de outro dia pior ainda. John pouco falava, mas Olivia confiava nele, ela se apegou à ele. Por vezes ele até falava mais do que uma ou duas frases, se davam bem e como não poderiam? Eram as únicas pessoas naquela caminhada. Tinham deixado alguns conhecidos em sua cidade, uns vivos, outros mortos. A coragem e a calma de John eram o trampolim que os impulsionavam naquela caminhada. O bom humor de Olivia era reconfortante para ele, mesmo que ela estivesse com uma perna quase deteriorada. Novamente, era quase noite. Ambos dormiam quase lado a lado. Eles esperavam pelos últimos 3 dias daquela jornada.


Cap IV (Dia 4)


Como em todos os outros dias John acordou lentamente, achando que havia sido o primeiro, para sua surpresa Olivia tinha se antecipado dessa vez. Algumas frutas seriam o bastante para aquele dia.
- Bom dia, como dormiu? – ela perguntou
- Estamos no fim do mundo, como achas que dormi? – O seu mau humor era uma rotina e nem afeta-a mais.
Ignorando isso, ela o ofereceu umas frutas e ele aceitou. Em 30 minutos eles começavam a se ajeitar para outro longo dia. Com uma leve chuva e nuvens carregadas ambos comemoravam, afinal, depois de dias de calor infernal, nada melhor que uma mudança de temperatura.
A chuva aos poucos se tornava grossa, tornando alguns pontos arriscados. Descidas de lugares rochosos eram evitadas, assim como subir em áreas montanhosas. Tal escolha fazia o caminho percorrido parecer um ziguezague. Por vezes Olivia derrapou e foi salva pelo braço forte de John e seus reflexos rápidos. Aquilo que antes era uma chuva aos poucos se tornava um temporal, e dos fortes. Água foi aquilo que mais procuravam, mas dessa vez ela era sua maior inimiga. O vento colaborava para criar um cenário ainda mais desfavorável. Por mais que ele fosse forte, estava caminhando por dois. Ela não conseguia apoiar o pé com firmeza no chão, o tempo não cessava. A melhor ideia era procurar um lugar para se abrigar até o temporal passar. Uma cabana seria perfeita, mas não havia cabanas, nem casas ou lugares possíveis. Tinham algumas cavernas, e com um grande esforço ambos chegaram nela. A impulsão de John foi essencial para carregar Olivia, mesmo que com alguns arranhões no percurso.

Era frio, as suas roupas estavam encharcadas da chuva. Ela se debatia de frio, poderia pegar pneumonia. John teria que aquecê-la. Ambos se deitaram encostados em uma das paredes, enquanto viam os céus pegarem fogo. A chuva de meteoros agora era vista de camarote. O silêncio predominava. As gotas caindo, a chuva respingando no rosto de John não tirava a atenção dele ao ver aquelas bolas de fogo. Ele olhava incrédulo para aquele espetáculo da devastação. Eram cada vez maiores, eram cada vez mais frequentes. Em um momento de pequena pesquisa interna, ele entendeu que aquilo não eram meteoros e sim asteroides. A caverna tremia e por vezes Olivia gemeu de medo daquela situação. Asteroides, meteoros, dilúvio, o que mais faltaria? A madrugada passou, ela conseguiu dormir, mas John não. Ele sabia que as coisas iriam piorar cada vez mais. Ele pressentia algo. Ao observar Olivia dormir ele repassa em sua cabeça os últimos episódios. Seria aquilo um motivo para se manter vivo? Seria ela a sua última missão na Terra?
Eram muitas perguntas e nenhuma resposta. Naquela noite lágrimas finas escorriam de seu rosto. Por tanto tempo ele desejou que a morte o levasse e agora tudo o que ele queria era viver, novamente, ele tinha um motivo para viver. Em meio aos questionamentos e com um olho em Olivia e outra nos céus, ele adormeceu esperando que o outro dia trouxesse respostas para suas perguntas.

Dia 5

Ambos acordaram em meio à um tremor. A terra tremia e aquilo foi o despertar que precisavam. Haviam rachaduras no chão e as bolas de fogo soltavam lava por seus buracos. John desceu e abriu os braços para auxiliar Olivia. Tudo ia dando certo até um cacto perfurar a sua perna já machucada. Ela urrou de dor. Foi um grito ensurdecedor de desespero. Ele sabia que um obstáculo a mais ira dificultar as suas vidas. Em um movimento rápido ele a segurou e colocou em seus braços. De agora em diante, teria que ser assim, ela seria carregada.
Aquele homem parecia ter uma força sobrenatural. Por mais que os seus joelhos fraquejassem e a terra tremesse ele mantinha a compostura. O chão abria a cada 10 metros, o que os fazia mudar de direção. Não era mais possível prosseguir, não adiante. Aquele quebra-cabeça de rochas afundando, desabando provocava pânico em Olivia. Em um desses movimentos bruscos eles caíram junto com a superfície. Um desmoronamento de proporções inimagináveis aconteceu, e eles estavam ali, no lugar errado e na hora errada. Foram levados em direção ao subsolo como se estivessem em uma cachoeira. Ambos desacordados, ambos machucados e soterrados até o pescoço por pedras.


Cap V (Dia 6)


A claridade do dia invadia todos os espaços possíveis. A luz batia no rosto sujo e cheio de poeira de John, Olivia se mantinha desacordada. Ele aos poucos começava a se lembrar de como chegaram ali. Os músculos de seu corpo doíam e pela primeira vez ele parecia impossibilitado de levantar pelas pedras pesadas em cima de ambos. Olivia não acordava mesmo que ele estivesse berrando sem parar o seu nome. Após diversas tentativas, ele conseguiu. Meio em estado de choque, sua primeira reação foi tentar tirar as pedras que pareciam estar colocadas perfeitamente em cima do seu corpo com o intuito de não deixa-la levantar. A irritação se transformou em lágrimas enquanto John se mantinha calmo. A força descomunal não parecia estar com ele naquele momento. E mais, se eles conseguissem tirar as pedras, como iriam seguir se Olivia estava impedida de andar? Era algo quase impossível, não havia o que fazer menos para ela que rezava em voz baixa, assim como rezava todas as noites. Foram horas olhando para o céu azul, quase sem nuvens. Aquele parecia ser o melhor cenário para ser apreciado enquanto esperavam a morte.
É incrível que passemos a nossa vida toda imaginando a cena de nossa morte e quando ela vai acontecer não se parece em nada com o que a nossa mente criou. Ela tinha o sonho de morrer velhinha em sua cama, enquanto dormia. John nunca foi de sonhar em morrer, ele apenas desejava morrer, a forma? Não interessava desde que isso acontecesse. Nem ao menos em Las Vegas chegariam, mas não seria nada mal morrer naquele momento, ainda que nutrissem esperança de que fosse possível reverter à situação. Enquanto ela rezava, ele trabalhava. Em 2 horas metade das pedras haviam sido tiradas. Suas mãos eram uma mistura de poeira com sangue. Ao ver aquilo, Olivia tratou de buscar forças e ajudar seu companheiro. E foi assim que pedra por pedra ambos conseguiram se safar de uma das armadilhas que aquele dia tinha preparado.
A última pedra era a mais complicada. Posta bem em cima da perna quebrada de Olivia, John não teria como tirar sem forçar o lugar.
- Pare! Está doendo demais. – Gritava ela em meio a choros compulsivos
Ele ignorava qualquer coisa dita por ela e continuava tentando. Foi preciso mais de 30 minutos para conseguir tirá-la. Ensanguentada, a sua perna parecia ter passado por um moedor de carne. Ao menos a chuva que caía refrescava a sensação de ardência na perna de Olivia.
- Precisamos subir. Essas pedras podem sair do lugar, mas precisamos tentar. – Disse John como estivesse mandando um recado que foi entendido por ela na hora.
A chuva se intensificava e a dor de ambos também. Pedras rolavam para baixo, ambos deslizavam. Um terreno molhado e irregular era o que menos precisavam. Ao mesmo tempo em que a água que desabava dos céus limpava suas almas, era sua maior inimiga e penitência. Eles se revezavam: por vezes Olivia caia e em outras, John. Os céus ficavam negros e eles pareciam estar horas encarando aquele pedregulho. Metros eram vencidos de hora em hora. Olivia aguentava bem, ele se preocupava com meteoritos que caiam, já prevendo o que vinha em frente. O céu emergia em chamas. Por vezes meteoritos caiam perto deles, mas nada os desanimavam agora que estavam perto da saída. O instinto de sobrevivência falava mais alto, aquela dor seria recompensada, arranhões seriam passageiros, o que valia era sair desse buraco que teimava em puxá-los para baixo. Não foram nem um, nem duas tentativas, mas ambos resistiam bravamente. Até que a perna de Olivia não resistiu. Ela despencou 5 metros, John não foi rápido a tempo de conseguir segurá-la. Agora tudo construído tinha sido em vão, teriam que recomeçar.


Final


A dor prevalecia, mas John a incentivava com palavras, era arriscado demais descer, ambos poderiam cair. Quando estavam perto, os dois estenderam as mãos para ele a puxar, mas foi em vão. Mais duas tentativas até conseguir. Havia um sorriso no rosto de cada um, eles tentariam sair de lá novamente. Nem observavam o céu, nem ligavam pelo fato do chão tremer como estivesse em meio a um terremoto. Ele ia à frente, ela seguia seus passos. Faltava apenas mais um pouco, metros, centímetros. John sorria, e dizia: Vem. Olivia sorria. Ela parecia uma criança, ambos pareciam crianças brincando. Ela olhou novamente para cima, ele se concentrava nas rochas. Eles se olharam mais uma vez, porém Olivia não parecia feliz. Ela parecia surpresa, estupefata, com a boca aberta e os olhos arregalados. Os seus olhos foi o que mais chamou atenção. A cor azul deles deu lugar a um vermelho. Foi então que um asteroide acertou em cheio John.
Sabe aquela história de que um raio não cai no mesmo lugar duas vezes? É mentira. 30 metros afundaram-no na terra. Olivia ainda sentia o vento na cara daquele objeto enorme que recém havia passado em sua frente. Pedras voaram em sua direção, já John, devia estar morto. Não havia como sobreviver à aquilo. E assim a jornada dos dois acabaria, nem todos sobreviveriam.
É irônico pensar que John morreu sorrindo. Ele que tantas vezes pediu para tirarem sua vida, ele que estava prestes a cometer suicídio quando tudo isso aconteceu, tinha acabado de receber aquilo que pediu por anos. Recebeu justamente no momento mais feliz em tempos. É incrível como a vida é injusta. Ele não era um homem mau, havia cuidado dela, se não fosse por ele, não estaria viva. Olivia entrou em choque, não chorava, não tremia, apenas olhava para aquele asteroide. Esse era o fim de um homem de bom coração. Talvez o fim chegasse para ela em breve, mas naquele momento ela apenas pensava em John. Reuniu forças para conseguir falar.
A voz rouca parecia não querer sair. Ele deu sua vida por ela. Ao subir o último metro, olhou para trás e agradeceu:
- Obrigada,  John.

domingo, 21 de outubro de 2012

Shadow Days

Escrevo aqui pensando se não vou me arrepender mas com algumas certezas e uma certa esperança. Acredito que os dias de cão estão acabando e o futuro, não sei se me promete algo brilhante ou então uma coisa qualquer, porém, apenas o sentimento de espera já é bom. Esse sentimento que se parece tanto com aquela sensação de deitar a água bater nos pés ou o vento tocar a face. 
Eu não sou um cara mau e nem tento ser um fardo. Sou apenas um errante: faço péssimas escolhas e delas vem meus textos bagunçados e dotados de tristeza. Ainda que meus melhores textos fiquem reservados para os momentos de melancolia e introspecção, eu prefiro fazer textos fracos e viver feliz. A tristeza dá intensidade, qualquer narrativa se torna mais interessante, além do ser humano gostar de saber que o outro se sente mal. Edgar Poe diz que a dor enobrece o homem e eu concordo com isso. Mas Poe morreu bêbado, infeliz e sozinho, assim como eu me encontrei sozinho indagando o que seria de mim há meses atrás. 
É um saco ser sincero e é difícil se manter verdadeiro com o que se diz. Eu nunca desejei algum mal porém, algumas coisas não tem um final feliz. E entre despedidas e novos sorrisos eu prefiro lembrar da alegria que estes trazem. Mesmo sendo cafona demais, essas alegrias coloridas me dão um novo ânimo que a tristeza incolor dá. 
Tempos difíceis se passaram e talvez eu ainda tenha mais testes de agora em diante para provar que eu estou em pés firmes. Não tenho o trabalho dos sonhos, nem sou a pessoa que eu queria, mas acredito que grande parte da felicidade se dá na caminhada. Meus dias de cão estão acabando e eu sigo nessa caminhada. O que esperar? Não sei. Assim como eu não esperava que as coisas mudassem quando iam de mal à pior, eu não espero nada agora que  tudo muda e parece melhorar.

John Mayer para finalizar:


I'm a good man with a good heart
Had a tough time, got a rough start
And I finally learned to let it go
Now I'm right here, and I'm right now
And I'm open, knowing somehow
That my shadows days are over
My shadow days are over now

domingo, 14 de outubro de 2012

Heavier Things


Esse não é apenas um momento qualquer ou apenas mais um. É o momento de encarar a realidade como é. Não é apenas mais um episódio bobo em suas histórias sem pé nem cabeça. Você vive alimentando suas mentiras de pratos vazios, e oferecendo ilusões para qualquer um que passa, como um entregador de panfletos. Meu negócio sempre foi ir embora quando minhas costas não sustentassem mais do que o peso de meu mundo. E de certa forma eu continuo fazendo isso.
Todos sabem que ele é uma fachada. Fachada de novas risadas, beijos sem gostos e abraços vazios. Alguém realmente acredita nisso, me diga? Essa sua necessidade de povoar sua solidão em outros corpos e em amizades vazias não é notícia nova, querida. Convidados e mais convidados, e porque ele foi convidado? Deve para sustentar seus pés, pois se eles estivessem firmes como os meus, fincados à sete palmos da terra, você me veria sozinho. Isso bastaria, a sua coragem. 
Querida, mais uma coisa: tudo o que você me disse não parece convincente, ou tão convincente quanto os sorrisos de propagandas de pasta de dente. Na verdade, nem sei porque estou escrevendo. Na verdade, nem sei o que estou pensando ao certo, mas de uma coisa eu sei: eu não sei o que estou perdendo e talvez eu nem queira saber o que estou perdendo. Ainda prefiro a minha própria companhia, os meus risos sinceros e minhas tristezas reais. Pois para você, que vive nesse mundo de fantasias, o meu sorriso fez seus balões murcharem,  seu arco-íris (paraguaio) desaparecer e as nuvens povoarem seu céu.
E não se esqueça: eu estou bem. Eu estou dançando lentamente em um quarto em chamas e não sinto nada. Não sinto nada que antes me fazia mal. As queimaduras apenas me lembram de que estou vivo. E é por isso que estou aqui no meu quarto, em uma sexta-feira, dançando. É uma celebração, de coisas mais pesadas do que a sua realidade de mentira. Eu espero que um dia você sinta isso, ou que você encontre um professor de teatro melhor.

domingo, 7 de outubro de 2012

Eleições, futebol & amores

Hoje aconteceram as eleições. Ontem teve rodada do Campeonato Brasileiro. Nada disso me chamou muito atenção, mas cumpri minha obrigação e votei como qualquer pessoa vota. 
Meu pai me acusa de ser repetitivo e falar apenas sobre as relações entre pessoas. Ora pai, meu interesse na política é compatível com o nível dos candidatos que se apresentam ano após ano: zero. E além disso, o futebol que tantas vezes me encantou, anda me iludindo e após decepções atrás de decepções, eu hoje apenas vejo os jogos do meu time, e olhe lá!
O que me interessa mesmo são as relações. Sejam elas de amizade, cumplicidade ou em que exista amor. Elas são dotadas de surpresas. Uma hora te decepcionam, outras te surpreendem e todos os dias acontece algo diferente, tudo muda. Assim como os humanos, todas as relações são conflituosas e não escapamos de algumas em algum arranhão ou cicatriz, faz parte. Mas a mesma cicatriz um dia se transforma em um marco de aprendizado ou uma ferida que será curada por outra pessoa.
Ao contrário da política e do futebol, nas relações, eu acredito em uma mudança. Eu acredito nas pessoas, mesmo que isso seja bobo. Acredito mais em pessoas do que em políticos, porque pra mim, político é um monstro que pensa apenas na ganância. As relações e os amores que passam e passarão por minha vida me surpreendem mais do que a rapidez com que o futebol muda.
 Essas ditas, regem nossas vidas. Quando as relações vão bem, nossa vida vai bem e quando vão mal. nossa vida vai mal. Porém, como eu disse, tudo um momento muda. E se não mudar amanhã, muda semana que vem, no outro mês ou daqui a um ano. Mas tudo muda, e é isso que faz a vida valer.

i(Phone)

Esses tempos li na Superinteressante que a bateria do iPhone dura 4 meses em média. Ou seja, o aparelho sai de fábrica com uma data de validade: são apenas 4 meses de uso sem problemas. Após os 4 meses, começa o principal problema: a bateria. Um iPhone é caro e trocar a bateria custa o mesmo do que comprar um eletrônico novo. O custo-benefício é válido? É estranho como esperamos tanto para o lançamento de algo que quase não tem inovação. Endeusamos o seu criador, ficamos chocados com tantos aplicativos, mas nada dura pra sempre. Tudo tem um prazo de validade, assim como eu, como nós.
Nós começamos relacionamentos sabendo que em algum momento ou outro, erros serão cometidos e a separação será inevitável. O iPhone ao menos tem um prazo quase certo: 4 meses, deve ser por isso que gostamos tanto desses aparatos tecnológicos. Ao contrários dos seres humanos, ele não irá acordar se sentindo diferente, cansado de tudo e irá partir. O seu iPhone será substituído por outro, sem mágoas e sem despedidas. Tudo tem um prazo, todos nós temos um prazo.