Introspecção. Eu sempre fui assim,
quieto, introspectivo. Eu sempre estive imerso no meu próprio interior, mundo
criado por um em universo paralelo. Alheio a tudo aquilo que me rodeava e isso
se aplica a tudo que pode ser pensado. Lembro-me da minha professora ter dito a
minha mãe: “Ele é muito quieto, quase nem se mexe ou sai do lugar. Não incomoda
e tudo está bom para ele”. Isso se repetiu nos meus anos escolares. A diferença
é que eu já não tinha a mesma paciência e obediência. Nunca fui bom, ou melhor,
nunca procurei ser. Quando era pequeno, minha mãe sempre me dizia que eu não
ouvia, falava ou me expressava. Ao crescer, na adolescência, meu pai me
criticou inúmeras vezes quando isso se tornou sinônimo de irresponsabilidade.
Perdi prazos, deixei de fazer tarefas e sempre fui um zero a esquerda no
colégio. O motivo para isso tudo sempre se manteve nas escuras, até então não
descoberto.
Ao entrar na universidade aquele
horizonte de possibilidades e caminho me cegou. Por algum tempo eu pensava
somente na academia e os deveres dados por professores. Um dia, porém dei um
basta. Toquei o foda-se e caguei para a teoria. A minha ansiedade se tornava
cada vez maior e constante. Eu queria a prática, exercer aquilo tudo que estava
aprendendo. Isso por vezes me atrapalhou ao ponto de querer desistir de tudo.
Essa ânsia de querer viver o tempo perdido, de resgatar tudo que desperdicei,
em vão. Ainda penso nisso, mas não com a frequência de antes. O lamento pelo
que deixei de viver, fazer e produzir irá para o túmulo comigo. Resumidamente,
algo me atraia, mas ainda não sabia o que. E eu perseguiria isso até descobrir.
Finalmente aos poucos algo me despertara a intenção. Isso foi prosperando e
minhas pálpebras aos poucos ensaiavam um tímido despertar.
Em 20 anos, nada me tocara como
aquilo. Foi preciso uma pessoa para eu então descobrir o que queria e iria
fazer. A resposta, simples e camuflada, tinha me acompanhado quando comecei a
escrever. Eu escreveria. Eu iria fazer, praticar essa coisa chamada literatura. Nem bem sabia onde ia quando
comecei a escrever aos 13 anos. Não pretendia e meus pensamentos não sondavam
tal alternativa. Após sete longos anos descobri o que estava na minha frente o
tempo todo. E foi o mais belo dos amanheceres. O sol mais esperado quando a
caneta tocou no papel e me dei conta: seria escritor. Faria o possível.
Dormiria poucas horas durante a noite, leria mais do que li em minha vida toda,
pesquisaria e me aprofundaria em qualquer detalhe que me chamasse atenção. Não
sei se sou, mas nasci escritor. A explicação cientifica assim como a passada
por livros e professores diz que a comida ingerida pela mãe acaba por ser
recebida ao bebê pelo cordão umbilical.
O cordão umbilical não é somente a ligação
entre mãe e filho, ele vai muito além disso. O cordão umbilical é aquilo que
nos liga ao mundo. Nunca falei muito, mas necessitava me expressar de alguma
forma. A minha escrita é a forma de me conectar ao mundo. Preciso escrever e
ser lido, falar e ser escutado, pensar e provocar indagações. Eu não consigo me
imaginar fazendo outra coisa que não seja isso. Eu não consigo me imaginar
tendo uma conexão com o resto do universo se não for me expressando em palavras.
A realidade é que perdi muito tempo e é provável que demore ao lançar um livro.
Mesmo assim, o registro da primeira viagem ao centro do cérebros das outras
pessoas, totais estranhos até eu completar 20 anos, será feito com o
lançamento. Pode ser de contos, poesias ou até mesmo romances. O que importa é
o belo despertar de um longínquo sono.
"Há apenas dois lugares possíveis para uma pessoa. A família é um deles. O outro é o mundo inteiro." Daniel Galera, Barba Ensopada de Sangue