Sabe o que eu mais odeio nesse mundo? São os analistas. Não analistas de qualquer coisa sabe, de economia, futebol ou de outro assunto. São os analistas da vida alheia. Porra, será que não existe algo mais importante do que examinar o comportamento dos outros e tirar suas próprias conclusões?
Isso era tudo o que eu pensava enquanto caminhava pela rua com minha namorada, sendo perseguido por um grupo de fotógrafos. Eu odeio a mídia. A fama é uma merda. Os holofotes são o reflexo da mentira e disseminação de especulações. Andava com a cabeça baixa, segurando a mão dela e os meus nervos. Tudo o que eu queria era ir até ao seu encontro e golpeá-lo. Não apenas um, mas vários. Embora isso me causasse stress, uma agressão seria como jogar comida aos lobos, uma decisão tola que iria atrair aqueles corvos, famintos por notícias e polêmicas. Era o que eles queriam, seria entregar na mão daqueles tolos o desejado. Modelos causam esse alvoroço. Modelos que namoram com escritores ainda mais. A mídia ama controvérsias, o adverso, contrastes. Exploram isso como as construtoras exploram seus empregados, como as petroleiras exploram a Terra até o seu último resquício de ouro negro, como as madeireiras usufruem de toda a natureza verde. É engraçado isso, ninguém quer se presta a flagrar um político, mas se uma celebridade prefere uma pessoa de classe média para namorar se formam fóruns de grande intelectuais que sabem todos os detalhes de sua vida, suas virtudes e morais, seus segredos e princípios, comportamento e hábitos. É de invejar a forma com que os humanos procuram decifrar os outros ao invés de compreendê-los. Nenhum outro animal faz isso, e ainda nos dizemos racionais. O pior de tudo não é isso, mas sim que existe um conflito. Somos grandes pensadores: se achamos que entendemos uma pessoa, podemos entender todas as outras. Neruda, autor da frase “cada persona és um mundo”, ficaria aterrorizado com tais poetas, entendedores do mundo, e por que não do universo, já que essa galáxia é muito pequena para o pensamento grande de tais filósofos.
A cada passo, um flash, a cada movimento, um click. Os passos apressados resultavam em algo parecido com uma corrida. Era uma corrida contra o tempo, contra esses inimigos de nossa intimidade. Porque fui me envolver com uma pessoa famosa? Porque celebridades são tratadas como semideuses que não rotina, que não fazem coisas comuns como ir tomar um café, viajar ou até mesmo ir ao banheiro? Qual o motivo que nos instiga em tanto em tentar descobrir o que os outros fazem e pensam? O que planejam e quais são seus movimentos? É uma guerra fria não dita. É uma guerra onde pessoas não são mortas, mas princípios e morais sim. É uma atitude de revide; você me julga, eu te atinjo, eu não lhe dou paz, você responderá com guerra. E isso tudo é evolução, e o que vivemos, chamamos de humanidade. Humanidade o caralho, estamos mais sozinhos que nunca. Estamos a espreita, esperando a faca atingir às costas, o revólver ser sacado. O velho oeste no meio de arranha-céus que não nos permitem ver as nuvens.
Mas eu recuei, não fui rude. Posei para a foto com um sorriso. Nos sentamos na mesa ainda sendo vigiados pelos outros, com fotos sendo tiradas de ambos ali, naquele estabelecimento simples, mas cômodo e com calefação, nada melhor no inverno. Ficamos ali. Eles iriam aguentar uma ou duas horas, seria um teste de paciência. No fim, vencemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário