A
claridade invadindo as janelas abertas me despertava para mais um dia.
-
Bom dia, senhor. – Dizia ele, com seu bom humor costumeiro, embalado por um
sorriso calmo. Trazia na bandeja meu desjejum, embora soubesse que quase não
como devido ao meu enjoo matutino. Analisei os pratos, colheres, garfos e os
alimentos, pães, salgados e leite.
-
Temo que irei recusar outra vez, mas obrigado mesmo assim.
-
Como quiser senhor, mas se me permites dizer, deverias comer.
Eu
sabia que estávamos embarcando em um carro que faz o mesmo trajeto, para nos
mesmos pontos e não chegando a lugar algum. Sabia que ele argumentaria sobre a
minha saúde e a forma com que tenho tratado ela. Me daria um sermão, mesmo eu
sendo um adulto já. Diria coisas que eu já tinha conhecimento, mas preferia que
continuassem verdades ocultas. Por trás dessa fortaleza, nessa casa
confortável, as paredes brancas brandeavam que eu saísse, nem que fossem 15
minutos. Estavam cansadas de ver meu rosto cada vez mais pobre de expressões,
desanimadas em não receber companhia que não fosse a minha.
-
Olhe sir, você deveria sair, tomar um ar fresco. Fará um mês em breve que o
senhor não sai de casa. E não se esqueça, eu sei que o senhor também não anda
tomando banho. O que acontece-
Eu
o interrompi. Não precisava ouvir aquilo tudo novamente, mas dessa vez, éramos
peças num tabuleiro de xadrez, e eu acabava de errar a jogada que daria a ele a
sua vitória. Checkmate.
-
Não, ouça você. Eu sei que as coisas acabaram mal, mas você precisa ressurgir.
Eu sei muito bem o que acontece com os homens bons. Eles se calam. Isso não é
uma atitude muito boa. E eu sei que desde o momento em que olhei em seus olhos
e ouvi seu choro ecoar por esses corredores de que o senhor tinha uma boa alma.
Se o senhor fosse tão ruim quanto pensa, não passaria os últimos quatro anos
como um eremita que se refugia em sua casa, se protegendo do mundo que o
decepcionou. Não teria ficado tão triste com a falta de bondade das pessoas que
renunciaria do convívio diário com a sociedade. Senhor, o senhor é uma boa
pessoa. E daí se o mundo o feriu? Vamos lá, faça como seu pai; se levante! É
hora de deixar esses arrependimentos para trás. Não é por que o mundo lhe feriu
que você deva abster-se de viver. Viva um pouco. Volte. Ressurja.
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