Perfil

Minha foto
Projeto de escritor. To sempre de malas prontas pra lugar nenhum por que até hoje não achei casa alguma dentro de mim. (Pra saber mais, clique ali em Quem eu sou, à direita)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Adornar

Aline me excitava até os ossos. O simples diálogo com ela me provocava uma ereção. Ela era quase tudo que eu poderia imaginar, ou até melhor. Nossas conversas sempre tão cheias de conteúdo, sua mente aberta, o belo gosto musical que partilhávamos e suas curvas. As curvas de seu sorriso, os olhos tímidos e um conselho sempre na ponta da língua. Existem certas pessoas que nascem com um gosto diferente, meio amargo, meio doce, agridoce, como se fosse preciso desfrutar com cuidado em nosso paladar para não perder nenhum detalhe. E o seu gosto era salgado, doce, maçante, inefável.
Se houvesse alguma palavra para descrevê-la seria: perfeição. Eu amava Aline e ela me amava. O único ponto contra era a distância que nos separava. Mesmo assim sempre arranjávamos algum jeito de se ver, telefonando ou ligando a web cam. Eu sempre queria um pouco mais dela. Ficava até imaginando situações reais como, ela chegando em casa após um dia de trabalho em sua agência de publicidade e eu sentado na cadeira escrevendo.
Ela era uma daquelas mulheres que você não encontra em qualquer lugar. O gosto pelos games e pela tecnologia me salvou diversas vezes de algum problema com as máquinas, sabe, sou meio burro pra isso. Além do mais eu poderia perfeitamente elogiar uma mulher que ela concordaria comigo. Isso fazia a minha excitação dar picos e chegar até o céu, bater nas nuvens e voltar. Fazíamos tudo, tudo mesmo juntos. Aprendia um pouco com ela cada dia.
Pena que ela não era só minha, e se existe alguma coisa que eu não aprendi nessa vida foi partilhar. Como assim, a minha guria nos braços de alguém? Dava até uma certa repulsa e um arrepio na coluna. Sou egoísta demais pra não ter alguém por completo e hipócrita demais para não pensar da mesma forma quando o assunto era eu ter esse privilégio. Ainda tentamos contornar essas situações que aconteciam invariavelmente com o passar do tempo. Mas o amor mata tudo, e qualquer vestígio de carinho aos poucos foi dando lugar à falta de liberdade. Tornei-a minha prisioneira, minha escrava sexual e fonte única, - e de mais ninguém, de cultura. Ela me lembrava aquela personagem do cartunista Adão Iturrusgarai, que tinha o mesmo nome e dois namorados.

A excitação vinha também da liberdade que eu dava para ela, e eu tive que aprender à praticar o desapego, deixando sua gaiola aberta para ela voar de volta para mim. E assim acontecia, todo dia. Ela era metade de mim, e metade dela era meu. Fogo e água, éramos dois jovens nos completando. Por vezes melhores amigos, por outras melhores amantes e as vezes namorados. Meu sexo seguro, minha depravação saudável, meu meio sem final. Até já sabia, quando seu canto ecoasse pelo nosso quarto bagunçado era hora de voar. Quando o cheiro do seu perfume natural se dirigisse à mim, era hora de adornar o nosso pequeno apê. No meio dos lençóis, em cima da pia, no meio da rua, ela teria tudo aquilo que esperava de mim.

Nenhum comentário: