Aline me excitava até os ossos. O
simples diálogo com ela me provocava uma ereção. Ela era quase tudo que eu
poderia imaginar, ou até melhor. Nossas conversas sempre tão cheias de conteúdo,
sua mente aberta, o belo gosto musical que partilhávamos e suas curvas. As
curvas de seu sorriso, os olhos tímidos e um conselho sempre na ponta da
língua. Existem certas pessoas que nascem com um gosto diferente, meio amargo,
meio doce, agridoce, como se fosse preciso desfrutar com cuidado em nosso
paladar para não perder nenhum detalhe. E o seu gosto era salgado, doce,
maçante, inefável.
Se houvesse alguma palavra para
descrevê-la seria: perfeição. Eu amava Aline e ela me amava. O único ponto contra
era a distância que nos separava. Mesmo assim sempre arranjávamos algum jeito
de se ver, telefonando ou ligando a web cam. Eu sempre queria um pouco mais
dela. Ficava até imaginando situações reais como, ela chegando em casa após um
dia de trabalho em sua agência de publicidade e eu sentado na cadeira
escrevendo.
Ela era uma daquelas mulheres que você
não encontra em qualquer lugar. O gosto pelos games e pela tecnologia me salvou
diversas vezes de algum problema com as máquinas, sabe, sou meio burro pra isso.
Além do mais eu poderia perfeitamente elogiar uma mulher que ela concordaria
comigo. Isso fazia a minha excitação dar picos e chegar até o céu, bater nas
nuvens e voltar. Fazíamos tudo, tudo mesmo juntos. Aprendia um pouco com ela
cada dia.
Pena que ela não era só minha, e se
existe alguma coisa que eu não aprendi nessa vida foi partilhar. Como assim, a
minha guria nos braços de alguém? Dava até uma certa repulsa e um arrepio na
coluna. Sou egoísta demais pra não ter alguém por completo e hipócrita demais
para não pensar da mesma forma quando o assunto era eu ter esse privilégio.
Ainda tentamos contornar essas situações que aconteciam invariavelmente com o
passar do tempo. Mas o amor mata tudo, e qualquer vestígio de carinho aos
poucos foi dando lugar à falta de liberdade. Tornei-a minha prisioneira, minha
escrava sexual e fonte única, - e de mais ninguém, de cultura. Ela me lembrava
aquela personagem do cartunista Adão Iturrusgarai, que tinha o mesmo nome e
dois namorados.
A excitação vinha também da liberdade
que eu dava para ela, e eu tive que aprender à praticar o desapego, deixando
sua gaiola aberta para ela voar de volta para mim. E assim acontecia, todo dia.
Ela era metade de mim, e metade dela era meu. Fogo e água, éramos dois jovens
nos completando. Por vezes melhores amigos, por outras melhores amantes e as
vezes namorados. Meu sexo seguro, minha depravação saudável, meu meio sem
final. Até já sabia, quando seu canto ecoasse pelo nosso quarto bagunçado era
hora de voar. Quando o cheiro do seu perfume natural se dirigisse à mim, era
hora de adornar o nosso pequeno apê. No meio dos lençóis, em cima da pia, no
meio da rua, ela teria tudo aquilo que esperava de mim.